Opinião

Biodiversidade: a peça mais importante para um futuro sustentável

''Diante do contexto de mudanças climáticas e dos efeitos da pandemia da covid-19, precisamos de um olhar mais atento para a nossa relação com todas as formas de vida''

Correio Braziliense
postado em 03/06/2020 04:14
Pela capacidade de mover-se por todas as direções do tabuleiro, a rainha (também conhecida como dama) é considerada a peça mais importante do xadrez, capaz de determinar a vitória ou a derrota de um jogador. Quanto maior a aptidão de um indivíduo às mudanças de cenário, maiores as chances de êxito. No planeta Terra, também podemos identificar um fator capaz de definir nosso sucesso como espécie: fora do tabuleiro, a biodiversidade é a rainha.

Não por acaso, neste ano, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) elegeu o tema para as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente. A data é fixada em 5 de junho, mas as celebrações se estendem pelo mundo durante todo o mês. A ideia é enfatizar que “somos completamente dependentes de ecossistemas saudáveis e vibrantes para nossa saúde, água, alimentos, medicamentos, roupas, combustível, abrigo e energia”.

Diante do contexto de mudanças climáticas e dos efeitos da pandemia da covid-19, precisamos de um olhar mais atento para a nossa relação com todas as formas de vida. Já não passa despercebido o fato de que, ao combater a degradação e incentivar a conservação da natureza e da vida que nela habita, fortalece-se uma rede orgânica de cooperação. Sem esse esforço coletivo, muitas das tecnologias que hoje se conhece não existiriam.

Ao pensarmos em atividades econômicas, é impossível ignorar o papel que a biodiversidade exerce sobre cada uma delas. O próprio agronegócio, por exemplo. Não é possível desenvolver uma indústria agropecuária sem a diversidade genética presente nos micro-organismos que garantem a qualidade do solo e os nutrientes necessários para o crescimento das culturas e, na ponta final, a geração de alimentos.

Além disso, sem o importante trabalho de espécies polinizadoras, como abelhas, borboletas ou aves, as propriedades rurais produziriam menos e com menor qualidade. E o que dizer da pesquisa científica, da produção de medicamentos, que busca na natureza os princípios ativos das plantas? Quanto do setor turístico depende dos ambientes naturais e das espécies que promovem o ciclo da vida?

A ciência tem papel fundamental na integração entre economia e biodiversidade. Mesmo diante da riqueza da diversidade de vida na Terra, estima-se que, com todos os estudos e pesquisas realizados pela humanidade, 86% das espécies terrestres e 91% das que habitam os oceanos continuam desconhecidas pelo homem.

E o que acontece quando perdemos o que ainda não conhecemos? Relatório divulgado este ano pelo Fórum Econômico Mundial colocou a perda da biodiversidade como o terceiro risco de maior impacto para o planeta nos próximos 10 anos. O mesmo documento estima que os bens e serviços produzidos pelos ecossistemas somem um total de US$ 33 trilhões/ano — praticamente o Produto Interno Bruto da China e dos Estados Unidos, combinados.

Com a maior diversidade biológica do mundo e organizações que clamam por políticas de conservação, o Brasil poderia ser referência nessa empreitada. As nações precisam compreender que proteger a biodiversidade é proteger as liberdades individuais e coletivas das pessoas, promovendo a geração de riquezas e a qualidade de vida para a população. Quanto maior a adesão dos governos na construção de políticas públicas que tenham a biodiversidade como peça importante, maiores as nossas chances de vitória.


* Diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza 


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