Correio Braziliense
postado em 07/06/2020 04:23
Não acabou. Enquanto você lê esse artigo e pensa em sair do isolamento social, dando vazão às vontades, aos desejos, ao próprio ego, pessoas estão morrendo por coronavírus — muitas, em toda parte do Brasil, grande parcela delas sem chance sequer de ser socorrida. Enquanto governos promovem a reabertura de suas atividades, sob o pretexto de salvar a economia já falida, crianças, jovens, adultos e velhos morrem, morrem e morrem. Um a cada minuto, cerca de 35 mil desde o início da pandemia, recorde atrás de recorde. É o Brasil subindo a ladeira da vergonha. De novo.Recorde em desigualdade social, em mortes violentas, na polícia que mata, no genocídio dos pretos, no preconceito contra minorias, na violência doméstica, na irresponsabilidade na condução do país durante a pandemia. O Brasil é réu confesso em vários crimes humanitários. Há muito tempo, insiste em figurar nas piores listas. Viver num país que promove a matança em série dos seus cidadãos, por motivos diversos e sistêmicos, e que não reconhece nenhum de seus erros históricos é como caminhar sempre na sombra. Medo, insegurança, nenhuma sensação de proteção e zero oportunidade de reparar injustiças.
É dever constitucional do Estado proteger as pessoas e assegurar seus direitos. Quando o governo Bolsonaro — incluindo prole, integrantes e claques — lança suas cortinas de fumaça, sem base científica, para reduzir os impactos do coronavírus contra a vida humana, está, no mínimo, sendo incompetente, embora seja bem mais do que isso.
Em qualquer lugar do mundo, pelo menos os democráticos, essa gente teria que prestar contas. Cadê? Pode implodir as instituições por dentro, nomear incompetentes, bancar fake news, dizer absurdos, andar sem máscara se assim quiser, pode tudo? Não, não pode. Temos leis para isso, e as autoridades não estão isentas de cumpri-las.
Enquanto as mortes por coronavírus vão ganhando o rumo das periferias e as pessoas privilegiadas fazem um “imenso” esforço para ficar em suas casas confortáveis, muita gente padece do VELHO NORMAL: racismo estrutural, discriminação, miséria, violência, corrupção e impunidade.
Se tudo o que estamos vivendo não servir para ganharmos, como sociedade, o mínimo de consciência, de nada mais servirá. Se os crimes contra o menino Miguel e o americano Floyd não te causaram, além de revolta e dor, a certeza de que falimos como sociedade, nada mais o fará. Nenhum de nós está isento de prestar contas com este modelo que mata e fere. Faça a sua parte.
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