Opinião

Visão do Correio: A verdade é a melhor resposta

''Sem titular desde 15 de maio, sob o comando do interino, general Eduardo Pazuello, a pasta passou a fazer mistério em torno dos dados: as coletivas rarearam, a divulgação diária avançou na noite, a metodologia sofreu alterações''

Correio Braziliense
postado em 09/06/2020 04:05
No mar de atrasos em que países em desenvolvimento se debatem, o Brasil sobressai por exibir ilhas de excelência. Entre elas, a qualidade das estatísticas. Os dados divulgados pelas instituições de pesquisa nacionais, além do reconhecimento mundial, servem para orientar decisões, avaliar iniciativas, subsidiar políticas públicas.
 
Ombrear em qualidade com nações desenvolvidas, que inauguraram universidades na Idade Média, foi tarefa árdua, que começou no Segundo Império há 150 anos. Trata-se, pois, de patrimônio nacional. Zelar por ele é obrigação do governo, independentemente de inclinações, preferências ou cor partidária.
 
Duas medidas recentes puseram em xeque a credibilidade de instituições brasileiras. Em maio de 2019, o presidente da República questionou os dados medidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento da Amazônia. O Planalto afirmou que os números eram falsos. A crise levou à demissão do presidente do Instituto, Ricardo Galvão. Pouco depois, comprovou-se a lisura das estatísticas.
 
Agora, em plena pandemia, outro revés. Durante a gestão Luiz Henrique Mandetta e posteriormente do substituto, Nelson Teich, o Ministério da Saúde (MS) primava pela transparência nas informações sobre a evolução da doença no país. Todos os dias, coletivas tornavam públicos os números que interessam aos brasileiros: o total de infectados, de curados, de óbitos e a situação em que se encontravam diferentes unidades da Federação.
 
Sem titular desde 15 de maio, sob o comando do interino, general Eduardo Pazuello, a pasta passou a fazer mistério em torno dos dados: as coletivas rarearam, a divulgação diária avançou na noite, a metodologia sofreu alterações. Na sexta, mortos e infectados deixaram de vir à luz. Retornaram no domingo graças à repercussão negativa da medida.
 
O MS, no entanto, não voltou atrás. O governo quer fazer distinção entre mortes ocorridas e mortes registradas. É um falso rigor, pois, segundo porta-voz do próprio ministério,  “o total continua o total”. O Ministério da Saúde, sob pressão, confunde os brasileiros. Tapar o sol com a peneira ou tirar o sofá da sala não reduz o número de covas. Em pandemia, a melhor resposta é a verdade.

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