Opinião

O ensino digital é o ensino possível

Correio Braziliense
postado em 11/06/2020 04:16
A crise gerada pela pandemia da covid-19 abarca todos os setores da economia, entre eles o da educação. Toda a cadeia do setor passou por ajustes para se adaptar à nova realidade e um dos ensinamentos unânimes é o de que a crise fez muita gente entender que o ensino on-line é possível. Esse e outros pontos foram debatidos em webinar do Banco ABC Brasil com a presença da Fundação Dom Cabral, grupo Laureate, Educa Insights e Descomplica.
Para além da dificuldade de conduzir a adaptação de professores e alunos, muitos dos quais ainda relutantes ao ensino on-line, grande desafio para as instituições e empresas de ensino, de pequeno a grande porte, é o gerenciamento do fluxo de caixa e o possível abalo na liquidez. Com relação às operações, 80% das empresas realizaram o processo de migração para o ambiente digital em cerca de 40 dias, segundo estudo da Educa Insights.

No âmbito financeiro, a dificuldade econômica enfrentada pelo país com o distanciamento social ocasionou a dificuldade de alguns alunos permanecerem e seguirem adimplentes. Mas também não houve perda tão grande devido à procura pelos cursos durante a pandemia: 66% dos alunos garantiram a continuidade dos estudos (dados Educa Insights).

Atender ao novo mundo que se desenhava foi essencial, o que incluiu a readequação de portfólio e cursos para o pós-pandemia, a adaptação e flexibilização para o ensino híbrido, que vai se firmar como grande tendência no cenário pós-covid-19. A mudança de comportamento social é outro fator, com a confiança no ensino a distância aumentando substancialmente. Deve-se começar uma procura maior dessa modalidade como a primeira opção em vez de só como a “mais barata”. A mudança de comportamento também pode ser vista na digitalização dos processos de vestibular. Outro dado do Educa Insights mostra que 92,5% dos estudantes fariam o vestibular no formato on-line.

Tivemos no debate integrantes de três elos da cadeia de ensino: descomplica (Enem); Laureate (ensino superior); FDC (educação executiva). É interessante que as mudanças chegam rápido às gerações mais jovens (caso Descomplica). Enquanto na FDC, há aspectos como networking e compartilhamento de experiências, mais difíceis de absorver num ambiente puramente digital. Ou seja, há quem fale que o futuro é só digital. Há, também, quem fale que é híbrido. Vejo que a tendência é mais o segundo caso, principalmente quando se chega a programas de pós-graduação.

Debatendo os cenários de recuperação, tivemos a flexibilização como palavra-chave. Há grande chance para o setor por meio da construção de produtos que hoje não existem no modelo acadêmico e da utilização da tecnologia em termos de eficiência em custo (menos espaço físico, menos aluguel). A crise acabou, então, acelerando também a habilidade de gestão e a democratização da educação, outra grande tendência que deve prevalecer, visto que, no momento crítico como este, a educação se torna importante para a recuperação socioeconômica.

Outro aspecto que chama a atenção é que, no cenário pré-covid, o país contava com 60 milhões de pessoas aptas ao ensino superior. Metade delas poderia investir até R$ 450 em uma mensalidade. Com a crise, a evolução do desemprego e a dificuldade econômica, esse número tende a aumentar. Para os que estão na fase de adequação e flexibilizando a oferta, será válido analisar bem as duas variáveis de custos (docentes e infraestrutura física) para não sofrer com a sensibilidade dos alunos a mensalidades relativamente altas. Com a pandemia derrubando preconceitos e, se a aceleração da digitalização permanecer, a gente pode ter mudanças grandes para o setor.

Outro cenário esperado pelos players do setor é o de fusões e aquisições, principalmente no ensino superior. A oferta de ativos e a necessidade do crédito tornam-se muito palpáveis à medida que empresas encontram dificuldade no fluxo de caixa, habilidade de retenção e investimentos em plataformas tecnológicas. Mesmo que haja sinalização positiva para consolidar o negócio da educação no país, no pós-crise há, também, a tendência das fusões ou da própria saída do mercado de pequenas e médias empresas do setor. Fica a reflexão da necessidade de conduzir com profissionalismo e agilidade esse plano de contingência e adaptação, bem como o cenário positivo para investimentos em crédito para as empresas que seguirem a cartilha do que está sendo exposto neste momento de pandemia.

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