Correio Braziliense
postado em 13/06/2020 04:13
A festa tem hora certa para começar. Às 10 da noite, a aglomeração se inicia. Junta umas 4 mil pessoas rapidinho. Já chegou a reunir mais de 9 mil convidados. Também pudera, naquele dia, Chico Buarque, Caetano Veloso e Paulinho da Viola deram o ar da graça na balada. Tudo isso em plena quarentena. Mas, calma: o agito acontece com cada um em seu quadrado, via on-line. A anfitriã, Teresa Cristina, recebe todos, famosos e anônimos, sempre com um sorrisão no rosto. Do quarto de casa, no bairro da Penha, subúrbio do Rio, a sambista comanda as lives diárias, que têm funcionado como um bálsamo para muita gente.A cantora conta que começou os encontros diários, de forma despretensiosa, logo no início da pandemia, para “não surtar”. De cara, passou a ajudar outras pessoas a também não surtarem. Canta, faz cantar e não esquece de mandar comentários engajados e articulados sobre o tempo que vivemos. Formou uma espécie de rede solidária: todos compartilhando suas ansiedades e dúvidas nestes tempos estranhos. Mistura de música, bate-papo e desabafo, essa troca de experiências nos remete aos encontros em volta de uma mesa de bar. Lembra deles?
Mais do que quebrar a tensão dos dias de isolamento com doses de lirismo e risos, o fenômeno das lives, sejam de Teresa Cristina ou de tantos outros artistas, escancara o papel fundamental que a cultura e a arte continuam a exercer, mesmo durante a quarentena. Enquanto estamos todos isolados, a música, com sua poesia universal, tem conseguido unir e, pelo menos por alguns minutos, ajudar-nos a transcender a solidão. Quando ainda encarávamos o coronavírus como uma ameaça distante do Brasil, assistimos, encantados, aos espetáculos espontâneos que brotavam das janelas de vizinhanças europeias, trazidos pela generosidade de músicos que, cantando e tocando, buscavam aliviar a barra enfrentada por todos. Quando chegou a vez do nosso confinamento, experiências parecidas pipocaram por aqui, como o projeto Varanda Musical, no qual os músicos Tico Moraes e Alexandre Raichenok passaram a trazer clássicos do jazz para as quadras de Brasília.
Atitudes louváveis, já que os artistas são, justamente, alguns dos profissionais que mais têm sofrido os reflexos da pandemia. Com teatros, casas de espetáculo, bares e cinemas fechados, muitos têm passado por sérios problemas financeiros. Aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado, no último 4 de junho, o Projeto de Lei nº 1075 prevê ajuda emergencial de R$ 3 bilhões para a categoria. Apelidado de Lei Aldir Blanc, em homenagem ao grande compositor que, ironicamente, perdemos para a covid-19, agora aguarda sanção presidencial.
Nos encontros que promove, Teresa Cristina não deixa de ressaltar essa dura realidade por que passa sua classe profissional. Ela mesma conseguiu fazer uma única live patrocinada durante toda a quarentena. Talentosa, engajada e democrática, divide o espaço com todos. De quebra, acalanta o coração de quem busca na música e no riso um respiro.
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