Opinião

Visão do Correio: A corrupção na pandemia

''São inúmeros os estados onde as polícias Federal e Civil, com a participação do Ministério Público Federal, investigam o desvio de dinheiro público na compra de equipamentos e instalação de hospitais de campanha para tratar os enfermos da covid-19''

Correio Braziliense
postado em 15/06/2020 04:04
A corrupção, flagelo entranhado na política do Brasil, encontrou campo fértil na pandemia do novo coronavírus. São inúmeros os estados onde as polícias Federal e Civil, com a participação do Ministério Público Federal, investigam o desvio de dinheiro público na compra de equipamentos e instalação de hospitais de campanha para tratar os enfermos da covid-19, doença que já matou mais de 40 mil brasileiros. Recursos emergenciais têm de ser gastos sem o devido controle dos órgãos fiscalizadores — o que atrasaria a aquisição dos insumos para o combate à doença —, conforme prevê a legislação, depois de decretado o estado de calamidade pública pelo governo federal.

São Paulo ocupa a vexatória última posição no ranking da Transparência Internacional sobre a lisura das contratações emergenciais feitas pelas unidades da Federação. Espírito Santo está no topo da listas e Minas Gerais encontra-se na 11ª colocação. As autoridades policiais investigam contratos e compras que somam quase R$ 1,5 bilhão, em todo o país, para o enfrentamento à pandemia. O valor é muito maior do que os R$ 173 milhões pagos pelo governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT), no mensalão, para que parlamentares votassem a favor dos projetos de interesse do Palácio do Planalto.

Uma das mais importantes investigação em curso diz respeito à compra, pelo governo paulista, de respiradores da China, ao custo médio de R$ 204 mil a unidade, bem superior ao preço de mercado. O Palácio dos Bandeirantes chegou a anunciar o pagamento de R$ 550 milhões pela aquisição do equipamento, que virou alvo do Ministério Público e do Tribunal de Contas do estado. Pressionado, o governo refez o contrato e reduziu o montante pela metade. Mesmo assim, as investigações prosseguem.

No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel enfrenta um processo de impeachment por suspeita de superfaturamento nas ações de combate ao novo coronavírus. Antes da Assembleia Legislativa votar pela abertura do impedimento do chefe do Executivo estadual, a Polícia Federal e o MP cumpriram mandado de busca e apreensão no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, dentro das apurações sobre superfaturamento de insumos e desvio de dinheiro público. No Pará, a polícia e o MP também cumpriram mandados de busca e apreensão contra o governador Helder Barbalho.

Investigações sobre a prática de corrupção também acontecem em Santa Catarina, Ceará, Maranhão, Roraima, Amapá, Acre e Rondônia, de acordo com levantamento do Estado de Minas. O representante da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, lembra que “o mundo vive a tempestade perfeita para o cometimento de atos ilícitos” por causa da necessidade de maiores gastos públicos na luta contra a Covid-19. Na atual conjuntura, a corrupção mostra-se mais sórdida, ainda, já que os recursos desviados poderiam salvar vidas.

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