Correio Braziliense
postado em 16/06/2020 04:05
Imaginemos um brasiliense que estivesse distante, sem acesso a informações durante dois anos. Ele volta à capital e, claro, dá uma voltinha na Esplanada dos Ministérios. Ao passar pela Praça dos Três Poderes, vê um grupo pequeno de pessoas que lançam fogos de artifício. O que lhe virá à cabeça? Talvez alguma comemoração.
Mais ou menos o que o disse Luís Roberto Barroso. Em nota postada em rede social, o ministro qualificou os participantes de “irrelevantes na quantidade de integrantes e na qualidade das manifestações”. Vale, então, a pergunta. Por que a reação tão vigorosa de magistrados, parlamentares, Ministério Público?
Possível resposta talvez seja esta: caldo de cultura. Trata-se do resumo de sucessão de declarações impensadas, recuos em decisões, confronto entre poderes, exposição excessiva. Desde março, populares vão às ruas em apoio ao presidente. Viram-se faixas contra o STF e o Legislativo. Houve até quem clamasse por intervenção militar. Jair Bolsonaro esteve presente em alguns atos.
Há três semanas, grupos contrários ao Planalto também ocupam vias de Brasília e São Paulo. Misturam-se a outras vozes. Entre elas, antirracistas e antigovernadores. Bolsonaro pediu aos seguidores que desistissem das manifestações. Sem êxito. De qualquer forma, o número rareia dos dois lados.
A balbúrdia ocorre em plena pandemia. O coronavírus matou quase 450 mil pessoas no mundo e se aproxima de 45 mil no Brasil. Previsões sombrias assustam. O Produto Interno Bruto despenca, empresas fecham as portas, o desemprego se multiplica, a pobreza aumenta, a fome cresce entre os mais vulneráveis.
Sem vacina, sem remédio eficaz e sem conhecimento pleno do vírus, aumenta o clima de incerteza, insegurança e medo. Países que anunciaram o fim da crise sanitária experimentam nova onda do mal. Estados brasileiros também. Nesse cenário, afloram-se hipersensibilidades e sobressai a importância da palavra.
A “irrelevante” pirotecnia em frente ao STF, entendida como agressão à democracia, mereceu justo repúdio do presidente Dias Toffoli, autoridades e cidadãos de variadas tonalidades partidárias. Como disse o ministro Barroso, “há diferença entre militância e bandidagem”. As instituições estão em pleno funcionamento para estabelecer limites.
Fez bem o presidente Bolsonaro ao afirmar que pensa acabar com as entrevistas em Frente ao Palácio da Alvorada — fonte de frequentes crises. A palavra não pertence a quem a profere, mas ao público, que recebe a mensagem de forma diferente. Como afirma Nizan Guanaes, “a comunicação não é o que se diz, mas o que se entende”. A do chefe da nação tem muito peso.
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