Correio Braziliense
postado em 16/06/2020 04:05
A quarentena estabelecida como medida contra o novo coronavírus provavelmente não será esquecida por quem a viveu. O isolamento social, a mudança de rotina e de paradigmas e o assustador número de mortes. Tudo isso é extremamente marcante. E, por mais estranho que pareça, também inspirador.
O mundo das artes já sofre influência do período de distanciamento imposto pela pandemia. Música, literatura, audiovisual e artes visuais acumulam projetos tendo a situação como tema. O principal desafio é encontrar o equilíbrio de ser preciso e empático sobre um momento de tanta tristeza e incerteza.
Na música, quem melhor o fez foi a cantora Adriana Calcanhotto. No disco Só, totalmente produzido na pandemia, a artista consegue abordar um momento tão delicado com uma sonoridade para cima e que, mesmo tocando na ferida, não é sombrio; pelo contrário, é saudosista.
Em O que temos, fala sobre a solidão nos apartamentos: “Nos tempos de quarentena/ Nas sacadas, nos sobrados/ Nós estamos amontoados e sós/ O que temos são janelas”. Enquanto em Bunda lê lê, faz o funk da quarentena que brinca com termos muito utilizados no estilo para retratar o ócio e a repetição dentro de casa: “É o funk da quarentena/ O que faz na quarentena/ Na quarentena, o que que faz/ Senta, senta, senta/ Senta a bunda e estuda/ Senta a bunda e lê lê/ E vai à luta”.
Na literatura, uma dupla captou de forma genuína a quarentena. As professoras da Universidade de Brasília, Janara Sousa e Elen Geraldes, que lançaram a série literária Como sobrevivi à pandemia.
Empática, leve e instigante. É assim a saga que começa com Perto de mim e já tem mais um outro livro publicado, A senhora das bananas, e mais dois em processo de criação. Logo no primeiro, uma mensagem me chamou atenção e que, pelo menos para mim, define muito bem o momento: “A pandemia nos torna ultrassensíveis ao que tínhamos, ao que quase perdemos”.
O olhar das professoras consegue ser ainda mais sensível ao abrir a perspectiva para personagens diferentes narrarem as várias quarentenas. Tudo isso com esperança, como descreve Terezinha, protagonista do segundo livro: “Resolvi escrever este livro para que as pessoas tenham esperança quando passarem por situações difíceis na vida, como a perda de tudo que é importante para elas, a falta de dinheiro e as doenças, principalmente, a que acho mais horrível de todas, a doença que esse novo vírus trouxe, que se transformou numa pandemia”.
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