Opinião

Opinião: Adaptação ao ''novo normal''

''Os hábitos de higiene, por exemplo, tanto pessoal quanto coletivos, tornaram-se um caminho permanente. Lavar as mãos com frequência, deixar o sapato da porta pra fora (os orientais já faziam isso há tanto tempo), manter os ambientes limpos e arejados são alguns dos legados positivos da pandemia, que, provavelmente, não serão esquecidos quando tudo isso passar''

Correio Braziliense
postado em 18/06/2020 04:05
Tenho ouvido e lido muito por aí que esta pandemia serviu para, pelo menos, deixar a humanidade melhor, mais solidária. Disso ainda tenho minhas dúvidas, mas uma coisa é certa: ela nunca mais voltará a ser a mesma. Como o homo sapiens é um ser extremamente adaptável, o “novo normal”, nomenclatura que vem sendo empregada até por acadêmicos, tornou-se uma realidade sem volta. E já que (ainda) não podemos vencer o vírus, por que não tirar proveito do lado bom dele — se é que podemos achar algum.

Os hábitos de higiene, por exemplo, tanto pessoal quanto coletivos, tornaram-se um caminho permanente. Lavar as mãos com frequência, deixar o sapato da porta pra fora (os orientais já faziam isso há tanto tempo), manter os ambientes limpos e arejados são alguns dos legados positivos da pandemia, que, provavelmente, não serão esquecidos quando tudo isso passar. Claro que há o lado chato desses cuidados, como o uso das máscaras, que ainda fará parte do nosso cotidiano por muito tempo, ou a esterelização com álcool de todo e qualquer produto que entra em casa.

Até as aulas virtuais, que no início da quarentena causaram terror e pânico em pais, alunos e professores, ficaram mais leves. Por si só mais adaptáveis que quaisquer outros, as crianças já começam a tirar de letra essa história de ver os professores e os colegas por uma tela de computador e, ao modo delas, vão criando a própria rotina — não exatamente a ideal, mas a possível.

As celebrações também ganharam contornos especiais. Nos últimos meses, já perdi as contas de quantos vídeos minha filha gravou para parabenizar amiguinhos que estavam fazendo aniversário — um carinho que, neste momento, vale muito mais do que se imagina. Até festas tradicionais, como as juninas, não deixaram de ser comemoradas. Que o digam as lives de São João ou as quermesses em drive-thru, que têm pipocado este mês. Os mais empolgados preparam até decoração típica para não deixar a data passar sem registro.

Um outro legado desta quarentena — pelo menos torço para que esse fique — é a valorização do trabalho doméstico. A categoria mais mal paga e que emprega 6 milhões de brasileiros, a maioria deles sem carteira assinada, evidenciou a sua importância quando muitos patrões tiveram que arregaçar as mangas e faxinar, lavar roupa, cozinhar e até, pasmem, tomar conta dos filhos. Quem sabe, agora, esses trabalhadores recebam o devido valor, e isso venha em forma de salários dignos e direitos respeitados.

Uma coisa, porém, a que não consigo me adaptar é o tal do distanciamento social. Esta semana, voltei ao trabalho depois de três meses em home office e, ao mesmo tempo em que estava superfeliz em rever alguns dos colegas que, como eu, estavam de plantão, o “novo normal” me entristeceu. Não poder dar um abraço no amigo, manter-se vários passos ao lado e não trocar um simples aperto de mão não fazem parte da natureza humana. Espero que, ao menos, esse hábito possa logo ser deixado para trás.

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