Opinião

Visto, lido e ouvido

Um país que dá voltas numa montanha russa

Correio Braziliense
postado em 18/06/2020 04:05
Historiadores brasileiros e intelectuais brasilianistas que dedicam o tempo ao entendimento das questões de nosso país — tanto àquelas relativas ao passado quanto às que embaralham o presente momento numa confusão sem pé nem cabeça — estão a ponto de jogar a toalha e renunciar à tarefa de projetar um possível cenário futuro para o Brasil. Fica confirmada a antiga tese de que o país não é para amadores, mesmo aqueles que mantêm, por décadas, estreitos laços de intimidade com as ciências humanas.

Desde o processo de redemocratização, iniciado em 1984 com as “Diretas Já”,  o Brasil vive numa montanha russa no que diz respeito à sua evolução rumo a um Estado democraticamente sólido e estável. Foram muitas as crises que abalaram o país desde que os militares deixaram, em definitivo, o Palácio do Planalto, entre elas, a morte do presidente Tancredo Neves e a sua substituição, ocorrida num ambiente de total incerteza , por José Sarney (1985-1990). 

Sarney foi o primeiro presidente civil depois de mais duas décadas de fechamento político. Ele passou por sucessivas tentativas, no campo da economia, de trazer os números da inflação de 242%, registrados nem 1985, para um  patamar mais razoável, o que se revelaria uma missão impossível naqueles loucos anos. Quando terminou seu governo, o custo de vida rodava em 1.972% ao ano e o país mergulhado em profunda recessão.

Em 1987, era instalada a Assembleia Nacional Constituinte para redigir uma Carta substitutiva à de 1967, o que, de certa forma, provocaria um esvaziamento precoce do governo Sarney. Entre 1990 e 1992, o país foi governado pelo mais novo presidente eleito pelo voto direto após o período militar e, também, um dos mais breves. Fernando Collor enfrentou um rumoroso processo de impeachment. A inflação beirava os 1.200% ao ano e um confisco inédito da poupança dos brasileiros empurrou o Brasil para mais uma crise institucional de grandes proporções, que só seria sanada, em parte, com a posse do vice de Collor,  Itamar Franco.

De 1992 a 1994, o mineiro Itamar Franco, à frente da Presidência da República, governou em um ambiente que misturava os números negativos de uma hiperinflação, com a realização de uma série de plebiscitos, reafirmando a opção dos brasileiros pelo presidencialismo como sistema de governo e pela República, como forma de governo. Com ele, foi dado início ao Plano Real e o país pôde respirar por alguns anos, dentro de um cenário de maior estabilidade e credibilidade.

Itamar Franco fez, ainda, seu sucessor na pessoa de Fernando Henrique Cardoso, seu ministro da Fazenda. Entre os anos de 1995 a 2002, Fernando Henrique, eleito presidente da República, realizou um governo, em muitos aspectos, exemplar, tanto do ponto de vista econômico quanto político. Com ele, o Plano Real foi consolidado e o país passou a viver, talvez, seu melhor momento político e econômico, principalmente no primeiro mandato.

No segundo mandato, quando houve um crescimento significativo na sua reprovação pelos brasileiros, FHC não se empenhou em fazer seu sucessor, o então ministro José Serra. Preferiu abrir espaço e mesmo simpatias para a eleição de Lula. A chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder explica, em boa parte, as seguidas crises que viriam nos dois mandatos de Lula e, posteriormente, no governo de Dilma, que, de certa forma, projetou o cenário de crises que experimentamos. 

Eleito com 57,7 milhões de votos, Jair Bolsonaro chegou ao poder contra várias pesquisas divulgadas e gastando menos do que qualquer candidato. Com oposição ferrenha, fenômeno que o PT não enfrentou, Bolsonaro e a luta contra a corrupção tentam vencer dois inimigos. O inesperado coronavíirus e os egos dos Poderes Legislativo e Judiciário. Isso mantém nosso país, tradicionalmente, na corda bamba da história, entre ensaios de decolagens planejadas e aterrissagens de emergência. 

Para aqueles que procuram entender o Brasil dentro de uma linha histórica linear, como existente em outros cantos do planeta, fica a frustração em reconhecer que esse é um país surreal, onde a história factual e a ficção escrevem mais um capítulo da política nacional.


A frase que foi pronunciada
“O bem obtemos por nossa conta. 
Mas o mal nos prende, nos monta; 
quando certos, a verdade desponta: 
sempre o destino é quem apronta!
La Fontaine, poeta francês


Redesenhar

» Esses assentamentos, como o Paranoá Parque, despertam uma tristeza imensa. Projeto arquitetônico rudimentar, poderia ser embelezado com urbanismo e paisagismo. Não se vê uma árvore frutífera para alimentar os pássaros nem flores para alimentar abelhas e borboletas.


Espertos

» Lisboa está anos-luz de distância da burocracia de Brasília. A cidade mais moderna do mundo não acompanha a tecnologia. Em Portugal, em qualquer agendamento com o governo, a comunicação é feita pelo WhatsApp, com bastante rapidez. Aqui, em Brasília, qualquer solicitação da população é feita por telefone com quase 10 minutos de espera, além de 20 dias para encaminhamento.


Alvíssaras

» Os Corrreios não se abateram com o coronavírus. Para alegria de muita gente que passou a fazer compras on-line.


História de Brasília
Bonita a atitude do general Amaury Kruel mandando 
recolher à garagem do Palácio Planalto os chapa-brancas que trafegavam sem ordem sábado e domingo. 
(Publicado em 10/1/1962)

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