Correio Braziliense
postado em 19/06/2020 04:05
Algumas mudanças de comportamento necessitam de um empurrão para se tornarem hábito. O medo e o isolamento, gerados nos últimos meses pela pandemia da covid-19, despertaram nas pessoas duas situações que podem ter resultados permanentes: o cuidado com a higienização no dia a dia e a reflexão sobre como queremos viver a partir de agora. Tornou-se consenso a necessidade de alterar comportamentos que, até então, eram considerados naturais e inofensivos.A Agência Espacial Europeia constatou que os níveis de dióxido de nitrogênio caíram cerca de 50% em cidades onde houve rigor nas medidas de quarentena. Estudo publicado na revista científica Nature Climate Change indica que as emissões globais diárias de CO2 diminuíram 17% no início de abril, em comparação com os níveis médios de 2019. Porém, outro estudo, realizado pelo Centre for Research on Energy and Clean Air, da Finlândia, aponta que os níveis de gases poluentes emitidos na China na primeira quinzena de maio, quando as atividades foram retomadas, são superiores aos verificados no ano passado.
A crise econômica associada à covid-19 é totalmente diferente das anteriores, pois está ancorada no comportamento individual. E, se o isolamento nos permite refletir melhor, podemos analisar com cuidado que futuro desejamos para as próximas gerações no chamado novo normal que a pandemia nos determina. Na ânsia de eliminar os prováveis riscos, podemos estar incorporando outros ao nosso cotidiano.
Na pandemia, o receio de contaminação tornou aceitável utilizar ainda mais produtos descartáveis, independentemente do impacto ambiental que a medida possa causar. Algumas redes de fast food retomaram a oferta de embalagens descartáveis como medida de segurança. Supermercados proibiram uso de sacolas reutilizáveis e voltaram a oferecer sacos plásticos sem cobrança de taxa extra em alguns estados.
Houve, também, expressivo aumento nos serviços de delivery e, com ele, crescimento no número de embalagens descartadas. Isso intensifica o grande problema socioambiental, provocado pela suspensão da coleta seletiva nas grandes cidades e pela interrupção do trabalho das cooperativas de catadores.
Podemos dizer claramente que a pandemia nos trouxe, além de todo sofrimento, retrocesso ambiental grave. Para muitos, foi a primeira vez que nos demos conta — na prática — da quantidade de lixo gerada no dia a dia. A ausência de atenção com o lixo urbano causa sensação ainda maior de desleixo com um assunto que deveria ser prioridade sempre.
Recentemente, cerca de 40 entidades nacionais de setores distintos uniram-se e solicitaram aos governantes a retomada da coleta seletiva e do trabalho das cooperativas de catadores de materiais recicláveis, com protocolo rígido de proteção à saúde dos profissionais envolvidos. A prioridade, neste momento, deve ser a saúde pública. Mas não podemos retroceder no avanço que tínhamos conquistado.
Contamos com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e a ação do governo para dar fim aos lixões. Queremos mais que os canais translúcidos da Europa, os céus despoluídos de São Paulo, a redução das emissões de gases de efeito estufa. Temos a oportunidade de apontar caminhos para comportamentos adequados ambientalmente com o retorno desejável da atividade produtiva.
O que esperamos é que os comportamentos individuais ressaltados durante a pandemia orientem mudanças necessárias e estruturais na produção, no consumo consciente e no descarte adequado. Se é hora de mudar comportamentos, nada mais natural que estabelecer políticas que passam, especialmente diante de um novo normal, por reformas legislativas para estimular a produção e o consumo de baixo impacto ambiental. Comportamento é escolha. E a oportunidade nos pede urgência.
* Presidente da Associação Brasileria dos Fabricantes de Latas de Alumínio
* Presidente da Associação Brasileria dos Fabricantes de Latas de Alumínio
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