Opinião

Visão do Correio: Desafios de Carlos Decotelli

Correio Braziliense
postado em 27/06/2020 04:04

O Ministério da Educação tem o terceiro titular em um ano e meio. Carlos Alberto Decotelli assume a pasta mais sensível da Esplanada. Chega depois de duas experiências equivocadas. A primeira durou menos de quatro meses. Ricardo Vélez Rodríguez tinha pouca familiaridade com o país e desconhecia as urgências da área. Abraham Weintraub, longe de debruçar-se sobre as premências do setor, travou uma guerra cultural extemporânea.


Decotelli apresenta-se como pessoa com formação técnica, sem preparo para discussões ideológicas. O perfil é bem-vindo. Especialistas do setor o consideram de trato afável e aberto ao diálogo. Com formação acadêmica nacional e internacional, tem conhecimento das premências que o esperam. Participou da equipe de transição do presidente Bolsonaro em 2018 e dirigiu o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).


São competências importantes para enfrentar os embates que tem pela frente. Na tarefa hercúlea, precisa fazer as vezes de Jano. O deus romano tem duas caras. Uma olha para trás. Vê os feitos passados, avalia-os e traça correções. A outra olha para a frente. Descortina os desafios que esperam por respostas a curto, médio e longo prazos.


Na retaguarda próxima, Decotelli vê pontes destruídas. Tem de reconstruir as que conduzem à universidade, reconciliam com a ciência, respeitam minorias, dialogam com o Congresso, harmonizam os Poderes, revigoram a cooperação, restabelecem o trato civilizado, reaproximam parceiros internos e externos.


Mais distante, vislumbra o atraso da escola pública. À medida que as classes média e rica trocavam as instituições do Estado pelas oferecidas pela iniciativa privada, a qualidade despencava. Tornou-se “coisa de pobre”, como a saúde e o transporte públicos. Em consequência, agravou-se a desigualdade social — a chaga mais vergonhosa desta que é uma das 10 maiores economias do mundo.


Na dianteira, o ministro vê três desafios urgentes. O primeiro: a volta às aulas pós-pandemia. O segundo: a definição do Enem. O terceiro: a renovação do Fundo de Manutenção da Educação Básica (Fundeb), cuja vigência expira em dezembro de 2020. São medidas de ontem que não podem esperar amanhã. Precisam de mobilização já. É importante que Donatelli conte com equipe afinada e comprometida para tomar o rumo certo na hora certa. Ele não tem espaço para erros.

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