Opinião

Visão do Correio: Boicote ao preconceito e ao discurso de ódio

''O tsunami provocado pelo assassinato de George Floyd, homem negro sufocado até a morte por policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, levou marcas tradicionais a reverem o nome e o rótulo de produtos que se baseiam em estereótipos raciais''

Correio Braziliense
postado em 30/06/2020 04:16
Há conquistas civilizatórias irreversíveis. Práticas aceitas com naturalidade em determinado período tornam-se inaceitáveis tempos depois. É o caso da escravidão, do trabalho infantil, do respeito às minorias e aos direitos humanos. Burlar os avanços merece a repulsa coletiva.

Uma vez descobertas, empresas que exploram mão de obra de crianças ou de adultos em atividades similares à da escravidão são objeto de críticas públicas e de boicote dos consumidores. Não raro precisam rever os métodos e promover campanhas para limpar a imagem.

Patrocinadores de eventos ou atletas exigem submissão à ética e aos valores caros à sociedade. Em caso de deslizes, desfazem contratos milionários por uma razão justa: não querem ver a marca associada a ideias ou comportamentos contrários à consciência civilizada do mundo.

Diretores, produtores e atores do jet set nacional e internacional denunciados por assédio sexual tiveram a carreira interrompida. Muitos respondem a processo. O movimento #MeToo, capitaneado por artistas de Hollywood, espalhou-se nos cinco continentes e deixa recado claro: o sexo não é moeda de troca para o exercício desta ou daquela função.

O tsunami provocado pelo assassinato de George Floyd, homem negro sufocado até a morte por policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, levou marcas tradicionais a reverem o nome e o rótulo de produtos que se baseiam em estereótipos raciais. É o caso da Krespinha (esponja de aço fabricada pela Bombril), do xarope para panquecas Aunt Jemima, do arroz Uncle Ben, da Suvinil, que está alterando a denominação de oito cores.

Na sexta-feira, gigantes multinacionais como Unilever e Coca-Cola decretaram boicote à publicidade em redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e Snap. O movimento argumenta que as plataformas contribuem para a disseminação de discursos de ódio, racismo e fake news. Líderes da campanha pressionam por medidas aptas a conter manifestações com potencial de lhes manchar a imagem.

A adesão cresce no mundo. Cresce também a preocupação com a resposta. A censura é temor procedente. Mark Zuckerber, que comanda o Facebook, manifestou o desconforto de ter a plataforma atuando como juiz, decidindo o que é verdade e o que é falso. A decisão, claro, demanda estudos e a participação de especialistas imparciais que levem em conta a demanda da sociedade e a livre circulação de ideias.
 
 
 
 

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