Correio Braziliense
postado em 01/07/2020 04:15
Máquina e engrenagem
Fôssemos estabelecer uma relação entre o funcionamento político e administrativo de um Estado à mecânica e à dinâmica de uma máquina, como um relógio, ficaria evidente, numa primeira vista, que é na perfeita integração e ajuste de cada uma das engrenagens, isoladamente e em grupo, que se obtém os resultados almejados do conjunto. Qualquer desajuste entre os diversos componentes que integram o Estado, compromete, a unidade e o resultado final.
Sob essa perspectiva, é possível tecer uma comparação entre o Brasil e alguns países do mundo desenvolvido, apenas observando o funcionamento e o desempenho de alguns desses estados frente aos desafios da pandemia da covid-19. Em termos de precisão de máquinas, poderíamos chegar à conclusão de que o Brasil está longe de funcionar com a presteza de um relógio suíço. Isso decorre tanto da inexistência de um sentido de grupo quanto da falta de uma coordenação capaz de estabelecer laços de compromisso de cada um.
A máquina do Estado brasileiro funciona com cada peça ou engrenagem agindo isoladamente, de acordo com interesses próprios ou de grupos dissociados de objetivos comuns. Numa situação desregrada como essa, agravada ainda pelos seguidos casos de corrupção e falta de punição nas mais variadas instâncias, o mal funcionamento e mesmo o colapso da máquina do Estado são o que se temos como resultado.
No caso da pandemia, que obrigou, por hora e sine die, a paralisação de uma máquina gigantesca e burocrática, o que temos pela frente é um imenso emaranhado de peças e engrenagens desconexas, amontoadas numa montanha de entulhos, como um ferro velho disfuncional. Mais do que uma imagem distópica, o Brasil, nesse instante, tem sido exemplo para mundo dito civilizado, de como não agir em caso de calamidade. Seguimos, em plena virose, com um excelente ministro, mas interino na pasta de Saúde. A certificação, dada pela suprema Corte, de que os estados federativos podem decidir livremente que medidas implementarem na pandemia mais do que ajudar na descentralização do problema, criou um conjunto de novas dificuldades envolto, em muitos casos, num nevoeiro de licitações malcheirosas.
A manipulação e o desencontro de dados, saídos dos hospitais, tanto de novos infectados, quanto de equipamentos à pronta disposição dos enfermos graves, criou um cenário de incertezas e de insegurança, que fez aumentar, ainda mais o descrédito nas autoridades, ao mesmo tempo em que abriu espaço para medidas e obras fantasiosas, das quais os hospitais de campanha são exemplos.
Numa situação dessa natureza, é certo que os entes federativos não se entendem e a comunicação truncada nada resolve. A única relação existente entre o poder central e os estados pode ser resumida à questão de liberação e repasses de verbas. Até mesmo o adiamento nas datas das próximas eleições só foi conseguido depois que a cúpula do Congresso prometeu contrapartidas, na forma de bilhões de reais, para as prefeituras usarem — acreditem, se quiserem — no combate à pandemia.
Para amolecer o coração dos políticos, aninhados no Centrão, foi prometida ainda a volta dos programas de rádio e de tevê para a propaganda dos partidos, tudo embrulhado num pacote argentário denominado de “acordo político”.
A frase que foi pronunciada
“A OMS recomenda não recomendar as recomendações que foram recomendadas semana passada antes de qualquer outra recomendação. Fiquem de olho para escolher a recomendação certa, e não recomendar o que não foi recomendado.”
Leo Indio, postou no Twitter
Convite
Rodrigo More é o candidato do Brasil para a função de juiz do Tribunal Internacional do Direito do Mar para o decênio 2020-2029. Veja mais detalhes no Blog do Ari Cunha.
Sem freio
» Final de semana, e até em dias da semana, festas acontecem em alto som no Paranoá, em plena pandemia. É impossível que os policiais do posto local não escutem a algazarra.
Observe
Aos poucos, as notícias sobre o coronavírus vão saindo da editoria de saúde e vão passando para as páginas de negócios.
Saneamento
De olho nas iniciativas do Rio Grande do Norte, a senadora Zenaide Maia afirma que o saneamento é bem-vindo, mas deve ser para todos os que precisam dele para viver melhor e não para quem quiser ter lucro. Transformar a água em mercadoria vai favorecer a falência das companhias estaduais de saneamento, lamenta. Mais informações no Blog do Ari Cunha.
História de Brasília
Os terroristas apareceram agora no sul. Quatro mascarados invadiram uma estação de rádio e queriam ler à força um manifesto anticomunista. Uma reação violenta das autoridades poderá por fim a esses fatos. (Publicado em 10/1/1962)
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