Correio Braziliense
postado em 02/07/2020 04:05
Entre a semana passada e esta, duas notícias destacam-se no Distrito Federal: o anúncio de que a capital do país enfrentará, este mês, o pico da pandemia do novo coronavírus e o retorno das aulas presenciais nas redes públicas e privadas entre 27 de julho e 3 de agosto.
Os empresários das escolas particulares entregaram ao GDF, na semana passada, um protocolo de retomada das aulas seguindo rigorosamente as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Respeito ao distanciamento, uso de máscaras, desinfecção dos espaços, mudanças nos horários de entrada e saída dos alunos, escala das aulas e até uma declaração assinada pelos responsáveis, de que o estudante não está infectado e não tem sintomas da doença.
A pergunta é: as escolas particulares e públicas podem garantir com essas medidas que as crianças e os adolescentes não serão contaminados pelo novo coronavírus?
A resposta é não, e quem tem filho sabe bem disso. Para começar, meninos e meninas na pré-adolescência e adolescência desafiam os limites. Isso é inerente ao desenvolvimento humano. E os pequenos, quando a gente pisca os olhos, estão com objetos na boca, disputando brinquedo, abraçando e beijando o coleguinha.
Em um quadro de normalidade, sem uma pandemia sobre as nossas cabeças, quando a criança entra na escola ou na creche, é batata: uma gripe atrás da outra, sem falar nas viroses e conjuntivites. Nos primeiro anos, algumas delas passam mais tempo em casa, sendo cuidadas, do que propriamente em sala de aula.
Agora, voltemos à covid-19. O sindicato das escolas listou no seu protocolo a exigência de documento atestando que o aluno não está infectado e nem com sintomas do novo coronavírus. Ora, se tem uma coisa que o mundo já aprendeu nesses seis meses de pandemia é que existe uma parcela da população assintomática.
Isso significa que a pessoa é infectada e não faz o isolamento porque, simplesmente, não faz ideia de que está com o vírus. Portanto, há um risco real de estudantes assintomáticos frequentarem as aulas e contaminar os colegas, os professores e os demais servidores da instituição. E as vítimas podem não ter a mesma sorte do assintomático e morrer. Estamos dispostos, enquanto sociedade, a pagar esse preço?
A covid-19 não mata apenas idosos e pessoas com doenças pré-existentes. Só aqui no Distrito Federal há dois registros de morte de crianças, uma delas, uma menina de 1 mês e 4 dias que nasceu sadia e foi infectada. Além de jovens saudáveis que perderam a vida. Sim, o risco é para todos. Inclusive para aquela criança e aqueles adolescente saudáveis.
A ciência, as informações, as estatísticas, os estudos, os pesquisadores, os médicos, os infectologistas e tantos outros profissionais estão aí para que possamos tomar a melhor decisão pelo bem coletivo. E para encerrar: num cenário de crise global sem precedentes, é mesmo sensato expor toda uma geração de crianças e jovens brasilienses ao risco real de contaminação? Não seria mais prudente aguardar a redução dos óbitos, das contaminações, avaliar os resultados, para, só então, retomar as aulas?
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