Correio Braziliense
postado em 08/07/2020 04:16
Rodin um pensador do futuro
Uma das mais famosas esculturas de todos os tempos, conhecida em todo o planeta, retrata um homem nu, sentado sobre uma rocha em posição de profunda meditação. De autoria do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917), a obra O Pensador foi finalizada em 1904 e, desde então, tem sido usada como referência na representação da condição humana, racional e eternamente colocada entre o pensamento abstrato e ação concreta. A dualidade que está entre a pausa da meditação e o movimento da ação é a própria síntese da nossa espécie, presente em nossas vidas desde sempre. Com a quarentena de mais de 100 dias, imposta pela virose mortífera, estamos justamente experimentando a condição de pensar a vida, meditar sobre a possibilidade de uma futura e possível ação, enquanto vamos percebendo que, bem ou mal, a vida continua a correr do lado de fora de nossa casa, e não espera por ninguém.
A ideia idílica de que a pandemia poderia atuar para lapidar nosso comportamento, agindo como um escultor sobre a rocha, aos poucos vai sendo deixada de lado. Permanecemos os mesmos ou, talvez, ainda mais ariscos e agressivos. O isolamento prolongado tem nos obrigado à reflexão, e isso já é um grande avanço. Por anos, agimos sem pensar. Não resta tempo, principalmente num mundo acelerado pelo comando das máquinas. Antropólogos e outros estudiosos que analisam a trajetória humana sobre a Terra apontam ser fundamental à nossa evolução como espécie o ato de pensar. Essa característica, própria dos humanos, facilitaria a vida num mundo, geralmente, hostil e, aparentemente, indiferente a todos os seres vivos e seus destinos.
Antes mesmo da quarentena nos apanhar de surpresa, assistíamos, a cada dia, a evolução da tecnologia e como essas novidades da ciência estavam modificando nossas vidas e nossos costumes. Uma dessas mudanças favorecidas pelas novas tecnologias e colocadas em prática pela obrigação do isolamento social foi o teletrabalho. Todos aqueles céticos que acreditavam ser impossível transferir e deslocar o local de trabalho da repartição ou da empresa para dentro das residências, hoje, mostram-se convencidos de que essa é uma mudança que, seguramente, veio para ficar e mudar antigos hábitos.
Outra mudança que parece estar acontecendo em acelerado ritmo, bem debaixo do nosso nariz, é a substituição do papel moeda e da própria moeda como bem econômico de troca. Mesmo o dinheiro de plástico, representado pelos cartões de crédito e débito, vai, aos poucos, também sendo substituídos por outras formas de compra e venda. A pandemia, que obrigou ao fechamento de muitos comércios físicos, favoreceu enormemente o comércio virtual, e essa é também uma tendência que parece ter chegado mais cedo do que se esperava.
Economistas pelo mundo afora têm, durante esse período, voltado a mencionar a possibilidade, discutida por séculos, de simplesmente erradicar o dinheiro e a sua função básica, tal qual o conhecemos, da face da Terra. Trata-se, por enquanto, de uma utopia, mas que ganha adeptos pelo planeta pelo simples fato — se existe essa possibilidade no mundo das ideias e da abstração, ou seja do pensamento —, de que ela é viável num tempo ainda incerto. E é aí que voltamos ao Pensador de Rodin.
Muitos, nesse momento propício, colocam-se na posição de meditação sobre novos arranjos futuros para problemas que arrastamos desde que descemos das árvores. A utopia, ou sua significação de “não lugar”, já foi atingida pela interligação dos computadores em redes de internet. Estamos aqui, e em todo o lugar ao mesmo tempo, e em nenhum lugar também. Tudo isso, graças à faculdade de nos colocar na posição de eternos pensadores.
A frase que foi pronunciada:
“As grandes revoluções do pensamento têm sempre os seus inspirados precursores, antes que o predestinado redentor esclareça os mais rebeldes entendimentos com a serena luz de um novo testamento da ciência.”
Latino Coelho, militar, escritor, jornalista e político português, formado em engenharia militar(1825-1891)
Voz do consumidor
» Depois de receber um requerimento assinado por mais de 150 médicos, Paulo Roberto Binicheski, promotor de Justiça de Defesa do Consumidor, está acompanhando uma situação estranha em hospitais públicos e particulares. Veja o vídeo no Blog do Ari Cunha. Quando os profissionais indicam uma medicação para um tratamento preventivo da covid-19 em pacientes mais vulneráveis, os medicamentos não estão disponíveis na rede hospitalar, pública ou privada. Outro assunto a ser investigado pela Promotoria é o comportamento dos planos de saúde. Se o protocolo desses convênios é atender os clientes com a máxima urgência, ou com a infinita exigência de cumprimento burocrático, ninguém melhor do que a população para indicar pistas. Pena que não haja um canal interativo para isso.
História de Brasília
Cabe aos moradores das quadras, que estão sendo gramadas, zelar pelo seu jardim, defender a conservação na paisagem e educar seus filhos para que não destrua a plantação. (Publicado em 11/1/1962)
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