Opinião

Cooperativismo em tempos de pandemia

''Mais do que nunca, os governos e as empresas devem cooperar para revitalizar a economia mundial, proteger o empresariado, promover o empoderamento do comércio e assegurar apoio às pessoas''

Correio Braziliense
postado em 09/07/2020 04:18
O cooperativismo originou-se durante a Revolução Industrial na Inglaterra e passou por grandes transformações. No Brasil, foi em 1889, na cidade de Ouro Preto (MG), que surgiu a primeira cooperativa. Em 1902, cria-se a primeira cooperativa de crédito do país, no Rio Grande do Sul e, em 1906, começam a se desenvolver as primeiras cooperativas agropecuárias nacionais.

Em 1969, é criada a Organização das Cooperativas Brasileiras, instituição sem fins lucrativos, representante e defensora dos interesses do cooperativismo nacional. Foi em 1971 que a Lei nº 5.764/71 disciplinou a criação de cooperativas no país e, com a Constituição Federal de 1988, que este ano comemora 32 anos de existência, estendeu a autonomia as cooperativas dando-lhes o poder de autogestão.

O movimento cooperativista brasileiro cresceu com a criação do Sescoop — Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo, instituição do sistema S (Sebrae, Sesc, Senac, Senai) — com a missão de promover a cultura cooperativista e aperfeiçoar a gestão das cooperativas para o seu desenvolvimento. No caso, os produtos e serviços operam por uma lógica diferente das empresas tradicionais e não têm como único objetivo o lucro. Na verdade, eles buscam garantir o bem-estar, a qualidade de vida e a evolução (financeira e profissional) conjunta dos participantes, dividindo os ganhos e as responsabilidades do negócio.

Entre os benefícios para a sociedade estão o desenvolvimento da economia local, a geração de empregos e o combate à exclusão social. As decisões das empresas são tomadas em conjunto, por meio das assembleias de membros. Os lucros são distribuídos entre os cooperados e investidos em melhorias na própria organização.

A educação é outro grande pilar do cooperativismo para a sociedade. Ele incentiva por parte dos cooperados o consumo consciente. Nesse campo, destaca-se a promoção de ações que estimulem a adoção de estilo de vida mais sustentável. O respeito ao meio ambiente, a redução do volume de lixo gerado, o combate ao desperdício e a educação financeira estão entre os principais temas ensinados e incentivados.

Atualmente, com importantes projetos no Congresso Nacional e mais de 6.800 cooperativas em nosso país, o objetivo é alcançar propósitos maiores em cooperação, utilizando sete grandes princípios. São eles: adesão voluntária, gestão democrática, participação econômica dos membros, autonomia e independência, educação, intercooperação e o interesse comum pela comunidade.

É indiscutível que passamos por um momento pandêmico e cheio de incertezas. Mais do que nunca, os governos e as empresas devem cooperar para revitalizar a economia mundial, proteger o empresariado, promover o empoderamento do comércio e assegurar apoio às pessoas. O cenário nos movimenta a acreditar em um mundo melhor, pois, embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e construir um novo caminho.

O constituinte originário teve a sabedoria de consignar no texto constitucional, como princípio fundamental, como bússola para a República Brasileira, a caminhada para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, promovendo o bem de todos sem distinção de qualquer natureza. A consciência é interpelada pelo ensinamento social para reconhecer e cumprir os valores supremos de justiça, dignidade, liberdade e de caridade na vida em sociedade. Tal ensinamento é luz da verdade moral, que suscita respostas apropriadas para um futuro tecnológico e indeterminado.

Como registrou o grande escritor universal Machado de Assis, “há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho. Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas”. Em 4 de julho, foi comemorado o Dia do Cooperativismo, com o olhar direcionado para o futuro e em uma época de calamidade e isolamento, acreditando no progresso social e econômico da cooperação e do auxílio mútuo, harmônico e fraterno entre os seres humanos.


* Advogado especialista em direito do empresário, presidente da Comissão de Empreendedorismo da OAB/DF,
membro da Comissão Nacional de Gestão, Empreendedorismo e Inovação do CFOAB e membro do IADF 

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