Opinião

Visto, lido e ouvido

Agenda ambiental ganha o mundo

Correio Braziliense
postado em 10/07/2020 04:06
Ficasse apenas no discurso de que a agenda ambiental era um estorvo para o crescimento do país, cuja a economia é puxada pelas riquezas produzidas pela agropecuária, o presidente Bolsonaro não teria feito muito diferente do que fizeram seus predecessores. Mas a inexperiência somada à jactância que lhe é habitual fez o presidente ir além e, numa demonstração de que pretendia se unir aos radicais do agronegócio e, com isso, angariar simpatias de uma forte bancada dentro do Congresso, partiu para a ação prática. Com isso, promoveu um desmonte significativo em todos os órgãos de controle envolvidos com a questão ambiental, inclusive aqueles ligados aos povos indígenas. Ibama, ICMBio, Funai e outros importantes institutos foram sensivelmente enfraquecidos, esvaziados ou simplesmente extintos.

Uma verdadeira razia foi promovida contra todos os órgãos ligados à agenda do meio ambiente, a maioria sob o pretexto de que esses organismos de Estado estavam demasiadamente loteados por pessoas e partidos de esquerda. A avaliação, um tanto forçada, seguia, ipsis litteris, as recomendações feitas pelo poderoso lobby do pessoal ligado ao bilionário e pragmático agronegócio. Para essa turma endinheirada e com forte amparo dentro do Legislativo, as investidas legais dos órgãos de controle, ligados à proteção do meio ambiente e dos povos indígenas, constantemente se chocavam com os projetos e com as ambições dos grandes pecuaristas, colocando entraves à expansão, sem limites, desse grupo.

As safras recordes, com a larga produção de proteínas, que colocavam o Brasil como potência agropecuária, eram motivos de sobra para colocar o país sob a tutela direta do agronegócio. A balança de exportações reforçava a tese de que o agronegócio, que trazia bilhões em divisas para o país, deveria ter primazia sobre toda e qualquer outra estrutura do Estado. A caça às bruxas, promovida nos organismos de controle ambientais ao atender aos interesses desses e de outros grupos que vieram se juntar ao novo governo, deu os resultados esperados internamente e a curto prazo.

Mas o que esse pessoal e o governo não esperavam e sequer sonhavam é que, além desses resultados imediatos de desmantelamentos dos órgãos de fiscalização do meio ambiente, viessem outras consequências também, até em maior proporção, só que de forma negativa e prejudicial à economia do país. A política ambiental de arrasa terra, promovida pelo governo, fez não só aumentar o desmatamento e as queimadas por todo país, que atingiram níveis de crescimento recordes, como acabaram por chamar atenção do resto do mundo, justamente numa época em que parte da humanidade busca resgatar o que restou do planeta Terra. Na contramão da história e tendo pela frente um enorme passivo no meio ambiente, o presidente Bolsonaro corre agora contra o relógio, depois que investidores do todo o mundo começaram a ensaiar a retirada do Brasil do rol de países merecedores de investimentos.

Por outro lado, graças à pressões internas, muitos países, principalmente da Europa, onde o presidente acreditava ter fechado um grande acordo de livre comércio, começaram a rever suas posições e a boicotar os produtos made in Brazil. A moratória, proposta agora pelo coordenador do Conselho da Amazônia, vice-presidente Hamilton Mourão, proibindo incêndios, de forma absoluta, por até 120 dias em toda a região da Amazônia e do Pantanal, insere-se num conjunto de medidas, tomado às pressas, para tentar reverter o estrago promovido pelo atual governo e que colocou o Brasil na vexaminosa posição de maior vilão mundial do meio ambiente. Há muito, a agenda ambiental ganhou importância em âmbito global, e só o atual governo não enxergou essa evidência e, agora, corre contra o tempo.


A frase que foi pronunciada
“Os seres viciosos seriam muito fortes, 
se o mal que levam consigo não bastasse para destruir o seu próprio veneno.”

Albert Delpit, romancista e ator dramático francês


Venezuela 1
» Artista, Leda Watson conta que, depois de ler a coluna intitulada Aos nossos irmãos venezuelanos, esteve naquele país para ministrar um curso de gravura, em Caracas, por volta de 1996. Ficou entusiasmada com a universidade, seus professores, alunos e estrutura funcional . O país parecia de primeiro-mundo e o curso e a exposição foram um sucesso.


Curiosidade
» Ari Cunha, mais ou menos em 1973, deu uma nota sobre uma mulher que tinha sido torturada grávida. Antes de ter sido julgado pelo Superior Tribunal Militar, foi informado pelo então presidente da Venezuela, Rafael Caldera, que aquele país estava de portas abertas para recebê-lo. Definitivamente, eram outros tempos.


Sensacional
» Hoje, no Blog do Ari Cunha, várias dicas de filmes sobre parto. Aspectos dos mais diversos abordados. Cada filme com uma linha de pensamento. Desde o parto humanizado até os problemas sustentados por médicos da rede particular de saúde em estimular o parto não natural.


Alcance
» Chegam em Alto Paraíso casos de covid-19. A comunidade pacata que só ouvia falar em pandemia, agora, começa a ficar preocupada e atenta às regras de distanciamento e uso de máscaras.


História de Brasília
Faça suas compras no comércio de Brasília, mas consulte sempre duas casas antes de se decidir. Há os que exploram, e que você deve punir com sua ausência. (Publicado em 11/1/1962)


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