Opinião

Visto, lido e ouvido

Velhos hábitos ainda moldam a modernidade

Correio Braziliense
postado em 11/07/2020 04:14
Que as instituições públicas são infinitamente mais importantes do que quaisquer indivíduos que venham a comandá-las, isso é sabido e consta nos princípios legais que regem a nossa República. Só que esse princípio, contido, inclusive, em muitos dispositivos na Carta Magna e que, de resto, assemelha-se à de muitos outros países democráticos, não encontra, entre nós, uma aceitação plena e pacífica. Isso decorre de nossa própria formação histórica, algo que parece estar impregnado na alma dos brasileiros. A questão do patrimonialismo pode ser encontrada, em maior ou menor grau, em cada uma das civilizações que vieram compor o que é hoje a nação brasileira.

Tanto na Europa portuguesa, quanto nos confins das tribos africanas, ou mesmo nas sociedades indígenas, os sinais de confusão e imiscuidade entre público e privado são elementos comuns. De certa maneira, nessas sociedades, tudo era comum para todos. Mesmo na metrópole portuguesa havia, entre a nobreza, em certo sentido, uma familiaridade entre o público e o privado. Eram outras épocas, outros costumes. E isso não é bom nem ruim. Não há lugar, em história, para se tratar de critérios de revisionismo ou de julgamentos tardios, que nada acrescentariam no curso da própria história.

Também entre os autóctones sediados neste continente, milhares de anos antes da chegada do homem branco, o forte sentimento de comunidade fazia entender que tudo era de todos, no sentido de ser responsabilidade de todos em comum. O mesmo ocorria nas diversas etnias que vieram da África para ser “as mãos e os pés dos senhores de engenho”, segundo Antonil. Todos tinham nas suas tradições milenares o princípio de que eram responsáveis pelo destino comum da tribo. Com tais características presentes em cada um desses povos que vieram se juntar e amalgamar-se no novo mundo americano, não causa surpresa que essas tendências personalistas encontraram por aqui terreno fácil para prosperar ainda mais, criando uma nação totalmente sui generis, para o bem e para o mal.

Após séculos de interação de sangue e costumes, esse patrimonialismo personalista ganhou, na visão de alguns estudiosos da formação do povo brasileiro, outras definições e reparos, assentes nas ciências humanas da antropologia e da sociologia. A miscibilidade, característica própria do colonizador português, deu a direção e imprimiu ainda mais ânimo à mistura de raças e costumes, tudo num caldeirão de crenças que se concentrava em torno da família patriarcal, o primeiro embrião da sociedade e que, posteriormente, iria se desdobrar naquilo que cremos ser a nação brasileira.

Tudo em nós remete ao passado e imprime, em nosso comportamento, cicatrizes. Somos o que somos e, por isso, talvez, andamos às voltas, correndo, mordendo e assoprando o próprio rabo, como fazem os cachorros agitados. Durante todo o período histórico do nosso país, as características do patriarcalismo, do patrimonialismo, do personalismo estiveram presentes e, bem ou mal, conduziram-nos até onde estamos atualmente. Chegamos a esse ponto que nada mais é do que uma espécie de encruzilhada alongada, que nos faz indecisos, sem saber que direção tomar. Afinal, a sociedade deve ser, como fazem outros países, regidas pela impessoalidade do Estado ou o contrário?


A frase que foi pronunciada
“O vício na gente nobre é vício posto a cavalo e entronizado, que, em lugar de ser estranho e aborrecido, se faz honrar e respeitar. E deste exemplo nasce o estrago e perdição de muitos.”
FR. Luís de Sousa


CEBs

» Está lá no Blog do Ari Cunha, dito e detalhado 
como o comunismo encontrou fendas 
na igreja católica para se infiltrar.


Missiva

» Festas barulhentas, no Lago Oeste, durante a quarentena, são prova de que não há fiscalização. Só pela algazarra fora do horário é possível localizar o evento. O pior ainda não é isso. São pontos de distribuição de drogas. O pessoal da Rua 13 está há dias sem poder dormir, por conta do barulho que se estende pela madrugada. Até tiros de salva se ouve! Duas ocorrências policiais foram registradas, mas nenhuma com efeito. Enquanto isso, a civilizada vizinhança daquela região se pergunta se este será o novo normal.


Aval

» Em sintonia com as centenas de médicos que denunciaram a falta de profilaxia à covid-19, leia no Blog do Ari Cunha a carta de um paciente que traduz o sentimento de várias pessoas que experimentaram atendimento médico em hospitais particulares.


Auditoria cidadã

» Fattorelli fala sobre a cessão de créditos de R$ 2,9 bilhões por R$ 370 milhões ao BTG e a relação dessa operação com a EC 106 e outras operações de compra de papel podre de bancos. Veja o vídeo no Blog do Ari Cunha.



História de Brasília
O depósito de mercadorias do UV-2 é um porão sem ventilação, onde a temperatura atinge mais de 50 graus. A colocação de exaustores poderia corrigir o que está acontecendo. 
(Publicado em 11/1/1962)

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