Opinião

Artigo: O presidente adoeceu

Sua aparência é de doente, louco para se esticar na cama, com um respirador dos bons na cabeceira e boas doses de azitromicina e de suas amadas poções de cloroquina

Correio Braziliense
postado em 12/07/2020 15:00
Ilustração de Bolsonaro com vírus na caraOs grandes problemas do Brasil para crescer e dar conforto material ao seu povo é extinguir as desigualdades sociais e atingir níveis éticos e tecnológicos de governança. Bolsonaro, o rei das redes sociais, chegou ao poder por sabe-las usar em favor dos ideias e desejos expressados neste início dessa conversa. Lula e o PT enraizaram-se, distribuindo dinheiro, sem contraprestação real, ao povo empobrecido e ignorante (48% dos brasileiros). O Bolsa-Família se eternizou. Bolsonaro elegeu-se com base — no 2º turno — na repulsa maciça da maioria do eleitorado a essa situação (em vitória renhida nas eleições de 2018).

Mas, acabou, depois de 20 meses, voltando ao “status quo ante”. Está dando dinheiro ao povão, seiscentas pratas ao mês e distribuindo cargos a mancheia aos partidos fisiológicos do Centrão. Toda aquela panca de redentor foi-se esgoto abaixo. Mas o dr. Jair Messias Bolsonaro, formada pela faculdade da boçalidade do Rio de Janeiro, continua a receitar o povo brasileiro, mesmo acometido pela covid-19.

Ele tinha certeza —  por se considerar atleta — que jamais pegaria a doença, se levarmos em conta as suas seguidas falas sobre a epidemia a assolar o planeta inteiro, mas com pouca incidência na África (em que pese a pobreza, fruto da urbanização forçada que os europeus colonialistas e exploradores de suas riquezas, lhe impuseram quando se retiraram, por bem ou por mal, levando de volta todos os equipamentos transportáveis (descolonização).

Contudo, o tema aqui é o Bolsonaro tomado pela doença que tanto desdenhou, tirando dos grupos de risco a “jeunesse dorée” da zona sul do Rio e d’outras praias e plagas, os homens e mulheres sadios, destinando-a (como se pudesse) às pessoas com comorbidades e aos idosos (que julga não ser aos seus 66 anos de idade). O vi bem abatido não só pelas extenuantes atividades no exercício do cargo de presidente, como também pelos efeitos já presentes da covid-19 no seu organismo.

Ele faz questão — birrento como é — de se dizer bem, como se tivesse só um “resfriadinho”. Não é verdade, mente por conveniência (nele é habitual). Sua aparência é de doente, louco para se esticar na cama, com um respirador dos bons na cabeceira e boas doses de azitromicina e de suas amadas poções de cloroquina, de resto de duvidosa eficácia, segundo os cientistas do mundo inteiro. Vejamos o que dizia o nosso herói depois de ter confessado indisposição, cansaço e dores no corpo, da doença virótica que só atingiria os idosos, os fragilizados (e também os falastrões). Mas a covid o pegou.

Desde o começo da propagação da covid-19, aliás, Bolsonaro desdenhou da pandemia, não deu ouvidos aos infectologistas, que alertavam para a letalidade da doença e os riscos que ela traz para os serviços de saúde, sobrecarregados, quando não há respeito ao distanciamento social. Chegou a dizer publicamente que o novo coronavírus provocava sintomas de “uma gripezinha” e não iria derrubá-lo, caso fosse contaminado. Chegou a cumprimentar um apoiador depois de limpar o nariz com as mãos. Um ato, aliás, de muito mau gosto.

“Como cidadão, vou continuar seguindo o protocolo, despachando por videoconferência e raramente recebendo uma ou outra pessoa para assinar algum documento”. “Você tem que botar a economia para rodar. Alguns falavam no passado, me criticando, que economia se recupera, vida, não. Olha, isso é uma verdade absoluta”. Não é correto, um povo doente tira licença e não trabalha.
Agora, a conversa se efetivou. Desejamos que a situação evolua bem sem necessidade de maiores cuidados, a bem de nossa governança e estabilidade, embora o Mourão exista para conjunturas como essa. O presidente deveria se dar o direito de descansar, deixando com o vice que em confiança escolheu, o dia a dia palaciano.

Aproveite o tempo para pensar nos incêndios que devastam a Amazônia. Os investidores, certos ou errados, estão exigindo do Brasil que resolva de uma vez por todas “a questão amazônica”, coisa que o seu governo até agora não fez. Pense na Damares, mande-a para casa, é uma besta quadrada e mande o Sales passear, ninguém, aqui e alhures, gosta da sua política, muito menos de passar as coisas por debaixo do pano. De minha parte, reservando-me uma visão crítica do seu governo, desejo-lhe, sr. presidente, uma pronta recuperação.

*Advogado

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