Opinião

Opinião: A dor da fome

''O Brasil é apontado como uma das nações com alto risco de aumento de pessoas em situação de extrema pobreza. Pode, inclusive, voltar ao 'mapa da fome', do qual saiu em 2014''

Correio Braziliense
postado em 13/07/2020 04:04
A carta dramática de uma menina de 7 anos, aqui do Distrito Federal, deveria ser copiada e entregue a cada autoridade política deste país. O texto escrito numa folha de caderno é um pedido de socorro: “Estamos passando fome”, escreveu a criança, com a ajuda da irmã. “Não é fácil todo dia acordar e não ter nada para comer.” Ela contou que tem sete irmãos, e o pai está desempregado. “Minha mãe chora todos os dias porque ela também não sabe o que fazer”, relatou. “Dormimos no chão, em cobertores, porque não temos colchões.” Na cartinha, pediu alimento, roupas e fraldas para a irmãzinha bebê.

É uma situação de arrasar a gente. A carta foi entregue a policiais militares, que publicaram um apelo nas redes sociais e conseguiram doações para a família, conforme mostrou o portal G1.

A privação dessa família repete-se em um sem-número de lares por este país — tão grande quanto desigual socialmente. Já estávamos em plena recessão econômica quando chegou o novo coronavírus para devastar tudo. Milhões de pais e mães não têm emprego e, portanto, não conseguem garantir o básico para os filhos. É desesperador.

Nesta semana, um estudo inédito da Oxfam International emitiu um alerta sobre o aumento da fome no planeta. Como mostrou a jornalista Rosana Hessel, do Correio, o Brasil é apontado como uma das nações com alto risco de aumento de pessoas em situação de extrema pobreza. Pode, inclusive, voltar ao “mapa da fome”, do qual saiu em 2014.

Ouvida pela reportagem, Maitê Gauto, gerente de Programas e Incidência da Oxfam Brasil, disse que o risco de o país voltar para o mapa da fome será alto, caso o governo não garanta políticas de proteção social. De acordo com ela, “um projeto de renda básica de longo prazo é importante nesse sentido, assim como restabelecer as medidas bem-sucedidas do combate à fome”.

O socorro aos famintos tem de ser prioridade para as autoridades políticas. Perde-se um tempo gigantesco em guerras ideológicas, bate-bocas rasos pelas redes sociais, briga por poder ou para mantê-lo, investidas para frear ações contra corrupção — um poderoso canal de drenagem de recursos públicos que poderiam ser investidos em programas sociais. Enquanto isso, crianças passam fome! É acintoso, revoltante, repulsivo.

Este momento crítico exige providências incisivas e urgentes para proteger os mais necessitados. Em paralelo, é preciso um esforço conjunto por uma agenda capaz de reativar a economia e gerar emprego, para que as pessoas, hoje flageladas pela fome, consigam trabalho e possam prover o necessário aos filhos. Isso é viver com dignidade.


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