Correio Braziliense
postado em 13/07/2020 04:04
O meio ambiente pode ser concebido como um conjunto de condições e influências naturais que cercam um ser vivo, sobre ele agindo. A ciência concluiu que o elo entre o meio ambiente e o ser humano é inquebrantável, sendo seus futuros inexoravelmente conectados e interdependentes. Civilizatoriamente, um dos principais legados que a atual geração pode deixar às subsequentes é um meio ambiente sadio e sustentável. Assim sendo, o respeito à natureza, à fauna e à flora é essencial para que o ser humano viva em equilíbrio e harmonia consigo mesmo e com os entes conviventes, desfrutando de saúde espiritual, física e mental.
O planeta experimenta pandemia atroz, que ameaça e ceifa vidas diuturnamente. A economia mundial está indiscutivelmente perturbada e o populismo político oportuno vem encontrando terreno fértil para a expansão com consequências indizíveis para a humanidade. Cenário dantesco. Nesse contexto, em 6 de julho, Dia Mundial das Zoonoses, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e o Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (Ilri) lançaram o relatório “Prevenir a Próxima Pandemia: Doenças Zoonóticas e Como Quebrar a Cadeia de Transmissão”. Trata-se de estudo que alerta para a possibilidade de novos surtos de doenças infecciosas serem naturalmente transmitidas entre animais e seres humanos caso os países não tomem medidas para prevenir e impedir as disseminações. Os principais agentes que desencadeiam as afecções são os micro-organismos como bactérias, fungos e vírus.
A crescente demanda por proteína animal, a expansão agrícola intensiva e não sustentável, o aumento da exploração da vida selvagem e a crise climática estão entre as principais tendências que impulsionam o surgimento das doenças zoonóticas. Apesar de a clareza científica advertir que a exploração incessante da vida selvagem e a destruição dos ecossistemas catapultam um fluxo constante de doenças transmitidas de animais para seres humanos, pessoas estreitas que gozam de influência política e social, ademais de interesses econômicos escusos, patrocinam corrente negacionista exitosa desses fenômenos capaz de ruborizar os ícones do obscurantismo da Idade Média.
Segundo o relatório, aproximadamente 2 milhões de pessoas morrem todos os anos devido a doenças zoonóticas desleixadas. Esses surtos provocam distintas doenças e acentuam a extrema pobreza, pois causam mortes e perdas de rebanhos animais em países em desenvolvimento. Tais doenças estão em ascensão por todo o mundo. Calcula-se que as perdas econômicas ocorridas como consequência superam os US$ 100 bilhões e, se a elas se somar as da pandemia de covid-19, chegariam a quase US$ 10 trilhões.
À luz do relatório, o conhecimento convergente em saúde pública, veterinária e ambiental, é o melhor método para prevenir e responder aos surtos das doenças zoonóticas e pandemias. Essa abordagem foi batizada como One Health. Em seu âmbito, os governos poderão realizar 10 ações práticas para evitar surtos futuros.
Elas compreendem: o investimento em aproximações interdisciplinares; o incentivo a pesquisas científicas sobre doenças zoonóticas; a melhoria nas análises do custo-benefício das intervenções para incluir o custo total dos impactos sociais gerados pelas doenças; o incremento da sensibilização sobre elas; o fortalecimento do monitoramento e da regulamentação de práticas a elas associadas, inclusive de sistemas alimentares; incentivar a gestão sustentável da terra, desenvolvendo alternativas para garantir a segurança alimentar, sem destruição dos habitats e da biodiversidade; melhorar a biossegurança; ampliar a coexistência sustentável entre a agricultura e a vida selvagem; fortalecer a capacidade dos atores do setor de saúde em todos os países; e operacionalizar a abordagem One Health no planejamento, implementação e monitoramento do uso da terra e do desenvolvimento sustentável.
A ciência e seus operadores contribuem com meios e ações capazes de prevenir e enfrentar as pandemias. Desenvolvê-los e colocá-los em prática é tarefa que compete primordialmente aos governos de turno. O legado de um meio ambiente e de um planeta sustentável às novas gerações é dever da sociedade em seu conjunto.
* Ph.D. em direito internacional e relações internacionais, é membro do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU
* Ph.D. em direito internacional e relações internacionais, é membro do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU
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