Correio Braziliense
postado em 14/07/2020 04:24
No dia 14 de julho, há 231 anos, em 1789, eclodia a famosa queda da Bastilha, suposto símbolo e ícone do poder absolutista quando se referencia a fortaleza como local de prisão dos revolucionários políticos, na verdade, os inimigos de Luís XVI.
Diferente do mito criado e aceito, sendo a data nacional da França, lá só estavam sete coitados, nenhum preso pelo poderoso rei, nenhum revolucionário, na verdade, quatro falsificadores, dois loucos, e um nobre depravado.
A busca pelo poder transforma-se para alguns na lendária fonte de Ponce de Leon, aquele exercício do prazer e poder rejuvenescedor, para outros, o meio de buscar a riqueza por meios ilícitos, deixando à margem o múnus público. No rastro, criam-se mitos, cabendo à história julgar se perenes ou não, como os da Revolução Francesa.
No Brasil, após instabilidade política, elegeu-se democraticamente o atual presidente, aclamado por muitos como o mito, eclodindo divisão ideológica nunca vista, talvez pela ruptura de paradigmas dos movimentos políticos não tradicionais alçados ao poder, somados à tecnologia e à devastadora influência da internet.
Nessa linha, os dois lados da polaridade exagerada parecem tentar criar um ambiente revolucionário, com seus gritos, tochas, bandeiras e até suas Bastilhas, certamente o STF e o Palácio do Planalto, cada extremo com seu alvo, em ambos os casos sob o discurso de suposta ruptura democrática.
O pior do diagnóstico insano e supostamente revolucionário são as perspectivas ilusórias de que uma nação continental, potência econômica reconhecida e com instituições de Estado sedimentadas em níveis capazes de suportar abalos, estaria sujeita à quebra da estrutura democrática. Assim, seja o extremo que acredita ser o STF a Bastilha a ser derrubada, seja o restante que vê o Palácio do Planalto como tal, não há razão para temor. Nesse tambor de batalha, ambos tocam o mesmo tom equivocado, ecoando risco fictício, mais um mito e um grito de guerra visando intensificar o calor do insano debate.
A crise entre os Três Poderes é fato e nele não há lugar para logomaquia ou exageros verbais, cabendo atos concretos de conciliação e diálogo, exercício da competência sem alarde, eficiência sem arrogância e equilíbrio sem emoções. Em ambiente com tantos revolucionários tupiniquins, embebecidos pelas luzes, como as mariposas, impõem-se a mudança de foco, o desligamento dos holofotes e, principalmente, o silêncio como arma para os chefes dos Três Poderes.
A democracia nunca esteve tão forte, contudo, os extremos erram e o tempo nos provará que não há espaço para revoluções quando ambos pensam e temem algo igual e inexistente, tornando o cenário quixotesco na luta contra os monstros ilusórios de Cervantes. A democracia só cresce quando testada e exercida, o retrato do momento, nada mais.
O mito de ruptura de nossas Bastilhas é facilmente derrubado com o exercício do silêncio e com o trabalho em prol da nação. Mirabeau, em dúvida na Revolução Francesa, discutia com os pares como receber na Assembleia Constituinte, em 15 de julho de 1789, o onipotente Luís XVI e, mesmo como um dos grandes oradores franceses, sustentou que bastaria o silêncio como recado altivo do momento, na célebre menção de que “o silêncio do povo é a lição dos reis”.
Não temos reis, não temos Bastilhas, muito menos revolucionários. Temos uma nação forte que, com sabedoria e ponderação dos governantes administrando o silêncio, poderá ser guiada ao mais alto patamar econômico — tornando-se, quem sabe, a sonhada e não dividida potência chamada Brasil.
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