Opinião

A necessidade de cooperação entre nações

''Assim como vírus, organizações terroristas e criminosas que emergem em um canto do mundo podem, com o tempo, espalhar-se e basear-se em outras partes do globo e causar devastação em países distantes''

Correio Braziliense
postado em 14/07/2020 04:24
Em todo o mundo, estamos passando por um momento difícil e incomum como resultado da pandemia da covid-19, que custou vidas e criou graves dificuldades econômicas. A Turquia, no que diz respeito ao limite dos danos à saúde, tem, em grande parte, lidado com sucesso com a crise e está na parte inferior da curva. Durante esse período, o país tentou ajudar a comunidade internacional o máximo possível. (A Turquia enviou assistência médica e suprimentos para mais de 100 países.)

A pandemia mostrou como um vírus, que surgiu em uma parte do planeta, pode, em um período muito rápido, ter impactos profundos e devastadores em todos os continentes. É por isso que a cooperação entre as nações para lidar com as ameaças comuns é de extrema importância.

Assim como vírus, organizações terroristas e criminosas que emergem em um canto do mundo podem, com o tempo, espalhar-se e basear-se em outras partes do globo e causar devastação em países distantes. Bom exemplo é a Organização Terrorista Fetullah Gülen (Feto), que constitui ameaça sem precedentes em termos de alcance, ambições e métodos.

Para compreender o perigo que a Feto representa, é preciso examinar a enormidade de suas ações e, principalmente, a tentativa de golpe na Turquia e o trauma sofrido pela nação turca. O líder da organização e os seguidores, em 15 de julho de 2016, empreenderam uma campanha terrorista para derrubar o governo democraticamente eleito, o presidente, o Parlamento e a ordem constitucional.

O plano foi pensado pela liderança da Feto e executado por membros da organização, que se infiltraram no exército, desobedecendo à cadeia de comando das Forças Armadas. O ato hediondo constitui o ataque terrorista mais letal que a Turquia já sofreu. Durante a tentativa de golpe, o prédio do Parlamento e o complexo presidencial foram bombardeados por pilotos desleais. Tanques foram levados às ruas para derrubar civis inocentes, enquanto helicópteros e jatos lançavam bombas e atiravam em todos à vista.

Pessoas de variadas origens e visões políticas frustraram o plano. Os partidos políticos e membros do Parlamento apoiaram-se firmemente na democracia, nas instituições legítimas e na Constituição. Eles demonstraram solidariedade histórica e reivindicaram seus direitos democráticos.

Naquela noite, 251 cidadãos foram mortos e mais de 2 mil pessoas ficaram feridas. A tentativa de golpe revelou a grave ameaça representada pela Feto. Para entender os aspectos do fato, é imperativo considerar a rede sombria, começando pelos colégios e escolas preparatórias estabelecidos nas últimas décadas pela Feto. Lavando mentes jovens em instituições fundadas sob o disfarce das chamadas atividades de treinamento, eles doutrinaram grande grupo de seguidores radicais que executaram as instruções da organização sem questionar e violaram as normas legais e morais.

Seus seguidores infiltraram-se nas instituições mais cruciais do Estado, roubando perguntas de provas e utilizando outros métodos ilegais. Além disso, julgaram eliminados os órgãos estatais considerados obstáculo à organização, mediante gravações ilícitas, chantagem e fabricação de evidências falsas.

Em 15 de julho, fomos capazes de compreender o tamanho da estrutura secreta estabelecida pela Feto em nossa mais crucial instituição, as Forças Armadas. O povo que se opôs à terrível ameaça demonstrou fervorosa e corajosamente ao mundo que não reconhecia nenhum poder sobre sua vontade e estava pronto para sacrificar a vida a fim de proteger o Estado e o sistema democrático.

Nos últimos quatro anos, a luta contra a Feto, dentro e fora da Turquia, constituiu uma das principais prioridades do país. A Turquia conseguiu conduzir com êxito a batalha em casa, em conformidade com os princípios do Estado de direito e dos direitos e liberdades fundamentais, e garantindo que a justiça seja cumprida.

A Feto passou por transformação significativa. A organização, que perdeu a espinha dorsal na Turquia, está tentando sobreviver, fazendo uso de sua estrutura no exterior, que inclui escolas e representações disfarçadas de centros culturais e afins.

A comunidade internacional está gradualmente entendendo que a Feto não é movimento social dedicado à educação e à caridade, como tenta retratar, mas organização sombria e insidiosa. É fato que também representa ameaça à segurança de outros países onde permanece ativa.

Países e organizações internacionais declararam a Feto terrorista. Nesse sentido, citam-se: a 43ª sessão do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Organização para Cooperação Islâmica (OCI), realizada em 19 de outubro de 2016; resolução semelhante da Assembleia Parlamentar Asiática, em 1º de dezembro de 2016, ratificada na 12ª Conferência da União Parlamentar da OCI, em 27 de janeiro de 2017; o veredito de 28 de dezembro de 2018 do Supremo Tribunal do Paquistão.

Com o objetivo de demonstrar a verdadeira natureza da Feto, os principais partidos políticos do Parlamento turco, incluindo os de oposição, em 9 de agosto de 2019, divulgaram declaração conjunta, alertando para os perigos da organização e reiterando o apelo a aliados e parceiros da Turquia a tomar medidas contra a Feto.

A conscientização em países terceiros também estimulou monitoramento e investigação sobre o assunto. Nossos esforços para eliminar as estruturas da Feto continuam. Assim como no caso da pandemia da covid-19, existe a necessidade de cooperação entre nações para combater organizações terroristas e criminosas que são nossos inimigos comuns.
 
 
* Embaixador da Turquia no Brasil 

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