Correio Braziliense
postado em 18/07/2020 04:18
Em um ano de protestos contra o racismo depois do assassinato de George Floyd por um policial branco, em maio, nos Estados Unidos, a semana foi marcada por conquistas coletivas e pessoais de dois jogadores brasileiros negros no futebol: Vitinho e Vinicius Junior.
Nascido e criado na Nova Brasília, uma das favelas que fazem parte do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, Vitinho é o herói rubro-negro pelo segundo ano consecutivo. Fez o gol do título contra o Vasco na decisão do Carioca 2019; e marcou também no Fla-Flu de quarta-feira.
Filho de retirantes nordestinos, Vitinho cresceu ouvindo outros tipos de intolerância. Era conhecido nos campos de várzea do bairro como “Pará”, contração de Paraíba. Ganhou, também, o apelido de “Asprilla” na infância — referência ao atacante colombiano que fez sucesso no país por Palmeiras e Fluminense. Por sinal, ele detestava a comparação. Um dia, disse ao técnico inventor da alcunha: “Asprilla, não, Tio Zé. Sou Vitinho”.
Original, Vitinho jamais teve vergonha de ser quem é. Muito menos de onde veio. Como se não bastasse a discriminação da cor, de ser da favela e o preconceito à origem dos pais, o jogador bateu de frente com o bullying no futebol. Escutava que só sabia chutar de direita. Passou a adestrar a outra “caneta” e respondia: “Viu agora? Chutei de esquerda”.
Pois foi com uma finalização de perna canhota, de fora da área, que o negro filho de nordestinos da comunidade Nova Brasília decretou o bicampeonato do Flamengo no Carioca.
Vinicius Junior sofreu injúria racial no Brasil e na Europa. Em 2018, ouviu de uma torcedora do Botafogo ao deixar o campo no estádio Nilton Santos: “Neguinho safado, aqui ó”, disparou, com um gesto obsceno flagrado pela tevê. Em 2019, um internauta publicou emoji de um macaco no site do diário AS para definir a atuação do atacante num clássico do Real contra o Barça.
Nada como um ano após o outro. O negro de São Gonçalo marcou, talvez, o gol mais importante da campanha do título espanhol conquistado na quinta-feira. Se o clássico entre Real e Barça é um campeonato à parte, Vinicius Junior fez o primeiro gol da vitória por 2 x 0 antes da pandemia, no Santiago Bernabéu, em 1° de março.
Os feitos de Vitinho e Vinicius Junior são símbolos da raça. Tributos a George Floyd no futebol — esporte que tem um rei preto — Pelé —, e cinco príncipes negros eleitos pelo colegiado da Fifa melhores do mundo na premiação criada em 1991: Romário (1994), Weah (1995), Ronaldo (1996, 1997 e 2002), Rivaldo (1999), e Ronaldinho Gaúcho (2004 e 2005).
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