Opinião

Lauro Morhy

''Ao dedicar-se incansavelmente à UnB, Lauro Mohry optou por não participar de concurso de titular em sua área durante os dois mandatos e contribuiu decisivamente para uma UnB à frente do seu tempo, tendo infelizmente nos deixado cedo''

Correio Braziliense
postado em 21/07/2020 04:06
Lauro MorhyFaz quatro anos do falecimento de Lauro Morhy, reitor da Universidade de Brasília entre 1997 e 2005. Os que tiveram o privilégio de conviver com ele ao longo da sua jornada na UnB lembram-se do seu carisma, simplicidade, gentileza e preocupação com o próximo. Lauro era determinado e trabalhador compulsivo, mas extremamente cuidadoso no trato com as pessoas. Sua premissa era a conciliação.

Tendo vivido e aprendido com indígenas na década de 1960 na Amazônia, dizia que era importante “fumar o cachimbo da paz” em prol de um bem maior. Era agregador e dialogava com todos, indistintamente, porque todos eram igualmente importantes para ele, que não discriminava cargo, título, posição, função ou qualquer característica das pessoas. Nunca se presenciou grosseria ou descortesia dele com quem quer que fosse. Era firme na defesa da UnB e batalhava por ela de modo incansável para que fosse cada vez mais relevante no cenário local, nacional e internacional.

O espaço é curto para relacionar todos os feitos das suas duas gestões e das demais atuações ao longo da carreira na UnB. Contudo, para destacar alguns marcos, registrem-se a idealização e criação do Programa de Avaliação Seriada (PAS), a implementação pioneira das cotas raciais, a criação da Universidade Virtual do Centro-Oeste, a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas e Serviços em Proteínas, a constituição do Laboratório de Estudos do Futuro, do programa Brasil em Questão, da Biblioteca Virtual, a criação e o desenvolvimento do Cespe como centro de referência nacional em concursos e avaliações.

Ele costumava realizar cafés da manhã como estratégia institucional com a presença constante de parlamentares distritais e federais da bancada do Distrito Federal. Como ele mesmo registrou: “Lembro-me do apelo em tom amigo, mas histórico, que fiz a todos que iam chegando para aqueles encontros matinais memoráveis: que fique o político partidário de fora e entre o estadista. A Universidade, o reitor e os seus projetos são suprapartidários”. A proposta de expansão da UnB seria bem recebida e logo apoiada por todos no DF, independentemente do partido político. Seguiu-se uma dura luta para obter os terrenos e os recursos mínimos necessários. Foi possível construir o câmpus de Planaltina e encaminhar favoravelmente a cessão de terrenos em Taguatinga, Ceilândia e Gama.

Nas suas gestões, autoridades nacionais e internacionais eram frequentemente recebidas na UnB. Não importava o partido político, já que o objetivo era a valorização da universidade, do ensino público e de qualidade, da expansão sustentada da pesquisa e da extensão. Graças ao diálogo e ao respeito, a UnB pôde promover debates com candidatos à Presidência da República em 2002 — programa Brasil em Questão.

Entre autoridades e intelectuais que estiveram na UnB em suas gestões, citem-se Dalai Lama Tenzin Gyatso, Milton Santos, Giovanni Berlinguer, Helena Kennedy, o nobel José Saramago, Xanana Gusmão, Hugo Chávez, José Mindlin, Hélio Jaguaribe, José Sarney, Francisco Weffort, Mário Velloso, Lygia Fagundes Telles, Frei Leonardo Boff, Chico Floresta, Bresser Pereira, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Anthony Garotinho.

A UnB ingressou no século 21 como a Universidade nota A. Conquistou o título de melhor universidade do país no Exame Nacional de Cursos, sistema do MEC, para avaliação do ensino superior. Faixas como: “Sorria, você está na UnB. A universidade nota A” referenciavam a aprovação em 90% dos cursos avaliados, ultrapassando instituições como USP e Unicamp. E, em julho de 2000, a UnB sediou a 52ª Reunião Anual da SBPC com o tema A UnB de asas abertas para você, com a presença da comunidade acadêmica nacional e internacional no câmpus Darcy Ribeiro. Foram momentos memoráveis e pujantes.

Ao dedicar-se incansavelmente à UnB, Lauro Mohry optou por não participar de concurso de titular em sua área durante os dois mandatos e contribuiu decisivamente para uma UnB à frente do seu tempo, tendo infelizmente nos deixado cedo. Que sua memória, seus feitos e sua dedicação para a nossa comunidade UnB sejam lembrados. Por fim, eis as próprias palavras quando da homenagem a ele como professor emérito em 05/12/2006:

“Trabalhemos sempre para que predominem os bons momentos. Cultivemos as boas ideias, os bons ensinamentos e os bons exemplos. O bom exemplo vale mais do que letras mortas e mil palavras ao vento. Sejamos autênticos, sejamos nós mesmos, não aquele outro que a mídia e as vaidades projetam, pois, quando tudo acaba, vê-se que não se fez nada. O tempo passa, mas com o tempo aprendemos que nós é que passamos. Essas são velhas sabedorias que muitos esquecem ou que não aprenderam. Amigos, de esperança em esperança exorcizamos o pessimismo, vivemos para frente e construímos o bom futuro. Sem esperança, não há sonhos, apenas terríveis pesadelos. Assim acreditando, cunhei esta frase, que já compartilhei com todos, que me alerta e renova a cada dia: “Quando paramos de sonhar, o diabo faz a gente ter pesadelos”.

* Professora do Departamento de Artes Visuais da UnB
** Professor do Departamento de História da UnB 

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