Já se passaram mais de seis meses deste peculiar 2020. São quase 200 dias de incertezas de toda natureza: na política, na economia e até nas coisas mais banais, como ir ou não ao supermercado, manter consultas de rotina ou adiar para quando o pior passar. A pandemia mundial do novo coronavírus ampliou o circo de horrores instalado no Brasil desde antes dela. Até a presente data, enterramos mais de 81 mil brasileiros, entre eles, cerca de 1,1 mil brasilienses. E, como consequência da falta de uma política pública alinhada aos fundamentos científicos, sabe-se lá quantos mais sepultaremos veremos até que uma vacina eficaz bloqueie as infecções e mortes pela covid-19.
Não sabemos de muitas coisas. Por exemplo, quais são as sequelas que o vírus pode deixar nos sobreviventes? Não temos nada que comprove a eficácia de vermífugos e outros medicamentos no tratamento dos doentes. Ainda assim, alguns deles foram amplamente divulgados até pelo presidente da República, que, após testar positivo para o novo coronavírus e se tratar com um deles, continua doente, mesmo passados 15 dias do primeiro resultado.
As curvas de mortos e de infectados seguem morro acima e não temos resposta dos governos de nenhuma esfera para reduzir o número de casos e evitar o colapso da saúde. No Distrito Federal, os gestores dizem que vivemos o chamado platô, quando os casos de infecções e mortos começam a se estabilizar para, num segundo momento, cair. Os boletins diários mostram que mais e mais brasilienses adoecem e morrem vítimas da covid-19. As vagas nos hospitais públicos e privados estão minguando ao ponto de, em alguns dias, não haver um leito sequer disponível em algumas unidades de saúde para receber novos doentes.
Ao contrário do que se pode imaginar, esse cenário na capital está longe de melhorar. Na semana passada, o GDF iniciou as obras de mais um hospital de campanha, em Ceilândia, com previsão para ficar pronto entre agosto e setembro. Há a promessa, ainda, de uma unidade para atender aos doentes do sistema prisional, na Papuda, e a adequação do hospital da Polícia Militar, também para reforçar a estrutura de acolhimento aos pacientes de covid-19. Se estivéssemos próximos de atravessar o momento mais difícil da pandemia, o GDF estaria ampliando, assim, a rede de atendimento hospitalar?
À revelia dos números e dos erros de outros estados e países, a saúde pública e a vida população seguem como bonecos de fantoches nas mãos dos governantes. O recado que os eleitos continuam a dar é que não se compadecem com as milhares de vidas perdidas, nem com a dor de quem fica. Não lhes importa se muitos vão morrer por falta de atendimento adequado. Se médicos, enfermeiros, equipe de limpeza trabalham no limite? Isso também não lhes importa. Não lhes interessa se os ônibus e metrôs estão abarrotados de trabalhadores que, para não perderem os empregos, saíram do isolamento social para bater ponto nos comércios, nas indústrias, nas academias, nos bares e nos restaurantes.
Em menos de 15 dias, recomeçam as aulas presenciais. E as pessoas, continuam se infectado e morrendo. Mas, isso, não parece ser importante. Afinal, a economia precisa girar e, como já disse o presidente em cadeia nacional, todo mundo morre um dia. Que esses que estão aí um dia sejam julgados pela irresponsabilidade que tem levado milhares para o cemitério e outros tantos, para o hospital. É o que nos resta.
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