Opinião

Visão do Correio: Corrupção no aumentativo

''Avançar nos cofres públicos ganhou tal naturalidade que, além de rotina, tornou-se objeto de ditos populares. 'Rouba, mas faz' é um dos mais difundidos.''

Correio Braziliense
postado em 26/07/2020 09:37
''Avançar nos cofres públicos ganhou tal naturalidade que, além de rotina, tornou-se objeto de ditos populares. 'Rouba, mas faz' é um dos mais difundidos.''Corrupção longe está de constituir jabuticaba. Tem-se notícia da prática em diferentes culturas de diferentes épocas. Estados capitalistas e comunistas, orientais e ocidentais, desenvolvidos e em desenvolvimento contam histórias de líderes que recorrem a meios escusos para atingir objetivos distantes do bem comum.

O Brasil não foge à regra. País jovem, com educação precária e uma multidão de vulneráveis, é terreno fértil para políticos inescrupulosos. Avançar nos cofres públicos ganhou tal naturalidade que, além de rotina, tornou-se objeto de ditos populares. “Rouba, mas faz” é um dos mais difundidos.

Com o aprimoramento das instituições a partir da Constituição de 1988, órgãos de fiscalização e controle passaram a atuar com mais independência e determinação. Dois presidentes da República sofreram impeachment, um foi preso e outro responde a processo na Justiça. Esquemas de assalto ao erário vieram à tona.

Corrupção ganhou rimas no aumentativo — mensalão e petrolão. Nos últimos dias, novos personagens entraram na crônica policial. Entre eles, o senador José Serra e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alkmin. Ambos agora figuram ao lado do deputado Aécio Neves, investigado em uma série de inquéritos. Os três disputaram o Palácio do Planalto pelo PSDB.
Apesar da visibilidade da Operação Lava-Jato, que passou aos brasileiros a impressão de que a secular impunidade nacional era página virada, denúncias recentes provaram o contrário. Em 12 unidades da Federação, investigações comprovaram fraude em aquisições emergenciais para enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

Em fevereiro, a legislação brasileira autorizou a compra, sem licitação, de bens, serviços e insumos necessários para salvar vidas. Menos de dois meses depois, o Ministério Público e a polícia notaram indícios de irregularidades como preços superfaturados e demora na entrega de mercadorias. Respiradores, máscaras e demais equipamentos de proteção individual, além de testes rápidos e hospitais de campanha foram objeto da sanha desenfreada de roubo do dinheiro público.

A crônica da corrupção parece novela. Há sempre espaço para novos capítulos. Os órgãos de fiscalização e controle precisam dar prioridade ao verbo prevenir. Remediar muitas vezes é ação tardia. Ao ser deflagrada, deixa para trás um rastro de prejuízos não raro irrecuperáveis. No caso da pandemia, milhares de cadáveres.

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