Correio Braziliense
postado em 31/07/2020 04:05
O cerco se fecha cada vez mais em torno da Lava-Jato, operação de combate à corrupção nunca vista no Brasil e que levou para a cadeia expoentes da política nacional, como um ex-presidente da República e um ex-comandante da Câmara dos Deputados, além de empresários de peso. Reconhecida internacionalmente como exemplo de luta contra corruptos e corruptores, a Lava-Jato vem sofrendo ataques velados ou não, nos últimos tempos, mesmo contando com o apoio inequívoco da maioria da população brasileira.
Foi do procurador-geral da República, Augusto Aras, o último lance no tabuleiro de xadrez representado pela atuação do Ministério Público Federal no combate à corrupção. Ele acusou a força-tarefa de ter se transformado em uma caixa de segredos com milhares de documentos ocultos. Disse, ainda, que é chegada a hora de corrigir rumos nas investigações da Lava-Jato, sobretudo do grupo de procuradores de Curitiba, berço das operação que foi, por muito tempo, liderada pelo ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.
Nos bastidores, comenta-se que o posicionamento de Aras vem ao encontro dos interesses de políticos investigados no Congresso e em gabinetes poderosos do Poder Executivo, além dos advogados de réus e denunciados pela Lava-Jato. A senadores, numa live fechada, o procurador-geral afirmou que a “República não combina com heróis”, e que a distribuição de processos da operação é passível de fraude. Também criticou as operações de busca e apreensão feitas pela Polícia Federal, uma das instituições que integram a força-tarefa, nas dependências da Câmara e do Senado.
Os procuradores da Lava-Jato reagiram, prontamente, às colocações de Aras. O grupo do MPF de Curitiba classificou as declarações de infundadas e negaram a existência de segredos ou documentos ocultos no trabalho da força-tarefa. Quanto à extensão das investigações — Aras afirmou que os procuradores têm 350 terabytes e 38 mil pessoas com seus dados depositados, “que ninguém sabe como foram escolhidos” —, o MP paranaense esclarece que a envergadura da apuração só mostra a amplitude do trabalho realizado pela operação até hoje.
Certo é que a sociedade permanece alerta em relação às tentativas de desacreditar a Lava-Jato, o que só interessa a quem tem contas a prestar à Justiça. Sempre é bom lembrar o que aconteceu com a Operação Mãos Limpas, na Itália, semelhante à desencadeada, posteriormente, em Curitiba. Teve o apoio maciço dos italianos, mas foi alvo de tantas denúncias que, mesmo sem terem sido comprovadas, solaparam a confiança da população e acabou desmoralizada. Que, no Brasil, o mesmo não aconteça e que a luta contra a chaga da corrupção não seja lembrada apenas nos livros de história.
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