Correio Braziliense
postado em 01/08/2020 04:14
O Brasil deveria seguir o exemplo de outros países e não se imiscuir em assuntos internos de outras nações, como as eleições para a presidência dos Estados Unidos, a serem realizadas em menos de 100 dias. Declarações recentes de figuras de proa da política brasileira em favor da reeleição do atual presidente dos EUA, Donald Trump, colocam em risco as relações futuras com a potência global, caso o candidato do Partido Democrata, Joe Biden, saia vitorioso na disputa. O presidente Jair Bolsonaro, inclusive, deixou explícito seu apoio à candidatura de Trump, pelas redes sociais, no mês passado.
O último episódio de intromissão indevida envolveu o deputado federal Eduardo Bolsonaro — ele presidiu a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara. Sem qualquer traquejo diplomático, o parlamentar postou um vídeo da campanha de Trump com ataques aos democratas com a inscrição “Trump em 2020”. Dias antes, em explícito alinhamento ao colega estadunidense, o presidente Bolsonaro disse: “A gente torce por Trump. Temos certeza de que vamos potencializar, e muito, o nosso relacionamento”.
O risco de isolamento político do Brasil é grande em caso de vitória do candidato democrata, avaliam experientes diplomatas. Principalmente por causa da incomum reação de congressistas democratas, como o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos EUA, Eliot Angel, que classificou a iniciativa do deputado brasileiro como “inaceitável e vergonhosa”. E arrematou, em sua conta no Twitter; “A família Bolsonaro precisa ficar fora da eleição dos Estados Unidos”.
Atitudes como as de políticos brasileiros, que irritam os norte-americanos, vêm sendo interpretadas como interferência indevida do Brasil nos assuntos internos dos Estados Unidos. Eles ainda guardam na memória o episódio da provável interferência russa contra a candidatura de Hillary Clinton — ela também é do Partido Democrata — nas últimas eleições presidenciais. Ressalta-se que qualquer ingerência estrangeira é vista nos Estados Unidos como uma ameaça em potencial.
A questão a ser levada em consideração é que a maioria das pesquisas apontam a vitória de Joe Biden e o governo brasileiro deveria montar uma estratégia caso a previsão se concretize. Uma das possibilidades de aproximação com os democratas seria a postura contrária à China tantas vezes explicitada pelo Palácio do Planalto e setores do Itamaraty. Os democratas, assim como os republicanos, estão engajados na cruzada contra a expansão chinesa no mundo, postura que pode ser favorável ao Brasil. O mais sensato, então, é o governo federal transmitir a mensagem de que gostaria de trabalhar com os EUA, independentemente do partido que sair vitorioso nas urnas do gigante do norte. O momento é de cautela e muito pragmatismo. A construção de pontes se faz necessária.
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