Jornal Correio Braziliense

Laboratorio Exame

Criança sem medo de hospital, médicos e exames. É possível! Saiba como

Veja alguns passos que os pais devem seguir para reverter o mau comportamento dos filhos


Levar o filho ao médico é um desafio que muitos pais já enfrentaram. Qual pai e qual mãe nunca tiveram que lidar com birra ou choro dos pequenos durante uma consulta? Essa reação, de medo e estresse, é bastante comum. Se até os adultos ficam ansiosos durante uma visita médica, quanto mais as crianças.

O que muitos não imaginam é que esse comportamento, quando no limite, tem sérias consequências. O alerta é da pediatra Natasha Slhessarenko. ;Hormônios como o cortisol, o de crescimento, por exemplo, podem sofrer alterações em casos de coletas de sangue muito traumáticas. O número de leucócitos também tende a aumentar significativamente. Um simples hemograma pode ter o diagnóstico alterado e acusar uma infecção que na verdade não existe;.

O casal Sheila e Roberto Leite sabem bem o que é isso. O pequeno Murilo, de três anos, começa a chorar antes mesmo de sair de casa. Fazer consultas, exames, tirar sangue e tomar vacinas são desafios que só terminam depois de muita conversa.

Com a corretora Adriana e o marido William Peres não foi diferente. Eles viveram anos difíceis quando a filha Laura, hoje com 14 anos, era pequena. Cada ida ao hospital era um drama. ;Ela tremia só de ver alguém de jaleco. Chorava muito para tirar sangue, tomar vacina. Foram muitos e muitos anos assim;, relata Adriana.

A boa notícia é que esse problema tem solução. A saída é simples e começa em casa. Veja alguns passos que os pais devem seguir para reverter esse comportamento dos filhos.


1- Converse com o seu filho.

Com uma linguagem simples e que faça parte do repertório das crianças, explique exatamente o que vai acontecer, como vai ser o procedimento, quem vai fazer, quanto tempo vai durar. Dê todos os detalhes. Hospitais, clínicas e laboratórios são lugares desconhecidos para as crianças e elas se sentem mais seguras se chegarem já sabendo o que vai acontecer.

2- Não minta.
O medo pode fazer a dor ser maior do que é. Por isso, seja sincero. Por exemplo, se determinado procedimento é dolorido, diga que vai doer. Não tente enganar seu filho. Mas explique também os benefícios e mostre que aquilo é importante para a saúde dele.

3- Use brincadeiras.

Atividades lúdicas com bonecos, vídeos, brincadeiras de faz de conta ajudam as crianças a entenderem com mais facilidade a importância de ir ao médico.

4- Procure ajuda.
Por fim, dependendo do nível do trauma da criança, procure um especialista. Psicólogos podem ajudar os pequenos a lidarem melhor com o problema. Uma das técnicas mais indicadas para esses casos é a dessensibilização sistemática, que aproxima a criança do objeto de medo até que ela seja capaz de enfrentá-lo.

Os três primeiros pontos listados acima envolvem especialmente a relação entre pais e filhos. As crianças são um reflexo do que aprendem com os pais. ;Tudo está relacionado ao aprendizado, sejam eles bons ou ruins. As crianças não nascem com medo, elas desenvolvem esse sentimento com os adultos, que muitas vezes associam hospitais e médicos a coisas ruins, doenças e até ao medo de morrer;, explica a psicóloga Izabela Pinheiro, técnica responsável pelo Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep) da UnB.

Ainda que de forma inconsciente, os pais são, em geral, os responsáveis por essa relação conturbada dos filhos com os médicos. ;Os pais ficam ansiosos demais, com receio do diagnóstico. Essa reação negativa influencia diretamente na atitude das crianças. Muitas não podem nem ver os médicos, que já começam a chorar. Por outro lado, quando a família adota uma postura mais tranquila, a tendência é que o filho não apresente tantos problemas;, explica Natasha Slhessarenko. ;Às vezes, a criança está tranquila, mas acaba sofrendo a influência do nervosismo dos pais;, completa.

Médicos, hospitais e laboratórios também podem ajudar. A preocupação com o bem-estar dos pequenos tem levado clínicas, hospitais e laboratórios a investirem cada vez mais em ambientes voltados para o público infantil. Um espaço que ajuda a distrair e acalmar as crianças. ;Elas ficam tão envolvidas com as brincadeiras, enquanto aguardam atendimento, que isso ajuda a diminuir o nível de estresse;, esclarece Natasha. ;Os centros médicos que oferecem esse tipo de atendimento proporcionam para as crianças uma continuidade da brincadeira que começou em casa, com os pais, dando a elas uma sensação de estabilidade e conforto;, observa a psicóloga Izabela Pinheiro.

Outro fator importante é procurar uma equipe médica bem treinada, que esteja preparada para perceber o que está acontecendo com os pequenos e também com os pais. Os profissionais que trabalham com esse público devem ser sensíveis e estarem prontos para entender tudo o que permeia o ambiente que os envolve.

Pai de cinco filhos, o administrador Francisco Azevedo Dias sabe bem o quanto isso é importante. ;Levar um filho ao hospital é um momento em que os pais também estão temerosos, fragilizados, por isso é muito importante ter médicos atenciosos ao seu lado e preparados para cuidar do bem-estar do seu filho;, conta.