Jornal Correio Braziliense

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Inovação educacional vai muito além da aquisição de tecnologias

A Casa Thomas Jefferson é pioneira em novas tendências de educação no DF e sua equipe de inovação ressalta a importância da capacitação do profissional para garantir que sejam identificadas oportunidades nas ferramentas disponíveis

O mundo está sofrendo modificações bruscas em períodos cada vez mais curtos. Os padrões de vida, o mercado de trabalho e as maneiras de pensar que antes se estendiam por séculos inteiros, hoje não são transmitidos nem para a geração seguinte. Nos últimos 100 anos, o planeta passou por quatro revoluções industriais, e as relações de trabalho têm se adaptado praticamente em tempo real às novas demandas sociais. Estima-se que 60% das crianças que estão em fase escolar hoje trabalharão em profissões que ainda não existem, e há uma preocupação global com o preparo desses jovens para a vida adulta. ;O ensino tradicional já está em descompasso com a realidade do mercado atual, imagine para um futuro que vai exigir competências que ainda não são desenvolvidas;, afirma Lucia Santos, diretora executiva da Casa Thomas Jefferson, centro binacional sem fins lucrativos dedicado ao ensino da língua inglesa no Distrito Federal e regiões próximas. ;Hoje você tem crianças do século XXI, professores do século XX e instituições educacionais do século XIX. As escolas precisam estar atentas às mudanças para permanecerem motivadoras e relevantes para o aluno;, completa.
Os alunos de hoje já nasceram imersos em tecnologia, com acesso ilimitado a qualquer tipo de informação, velocidade muito mais rápida de pensamento e multimodalidade de estímulos oriundos das mais diferentes mídias e oportunidades. O modelo escolar direcionado para a produção em massa, criado na primeira revolução industrial, em que eles sentam em carteiras enfileiradas, decoram conteúdos padronizados e precisam levantar a mão para fazer qualquer coisa não se encaixa mais nesse perfil. ;Alguns professores reclamam que o aluno não presta atenção, que não fica quieto, não segue as instruções, mas o que temos que fazer para mudar isso? Nada cai do céu;, conta Lucia. Para superar essa situação, a Casa Thomas Jefferson aposta no uso das redes para o desenvolvimento de projetos inovadores. ;É o poder das conexões. Hoje temos acesso a tudo que as pessoas estão fazendo ao redor do mundo. Tudo é compartilhado por meio de Twitter, Ted Talks, publicações acadêmicas, e nós precisamos acompanhar isso, interagir e acrescentar;, explica Clarissa Bezerra, especialista em inovação da instituição, ;a ideia é romper barreiras e pensar coletivamente;, acrescenta.



Clarissa trabalha na instituição há 20 anos. Já foi professora, coordenadora pedagógica e agora é curadora de inovações. Ela acredita que os profissionais de educação hoje precisam se conectar mais e usar suas redes sociais de maneira profissional para compartilhar conhecimento. ;Foi-se o tempo em que um profissional conseguia deter toda a informação. Não existe mais isso. É preciso alavancar o poder da rede e saber confiar nele. Além de ter o conhecimento, é importante saber como acessá-lo quando você precisa;, diz. A Thomas sempre foi muito interessada nos avanços de tecnologia educacional - foi a primeira escola do Distrito Federal a implantar tablets em sala de aula.

No entanto, uma grande preocupação hoje é diferenciar avanços tecnológicos de inovação. ;Uma caneta é uma tecnologia, um quadro negro é uma tecnologia, um quadro interativo é uma tecnologia. Se o professor não sabe utilizar para o proveito do aluno, não serve para nada. Não adianta eu colocar um tablet ou um computador na mão de uma pessoa que não sabe o que fazer com aquilo;, ilustra a curadora, ;muitas escolas por aí investem rios de dinheiro em salas equipadas, aparelhos de última geração e laboratórios e acham que estão acompanhando as inovações do mercado, mas não é bem assim. A inovação não é a ferramenta em si, mas o que o educador faz com ela;, completa. É preciso ter capacitação pedagógica, metodológica e um letramento digital para ver na tecnologia oportunidades de uso e para preparar o aluno para ter intimidade com as ferramentas, ao ponto de não ser apenas um consumidor dos conteúdos que ela proporciona, mas também um desenvolvedor e criador de projetos, alavancando seu processo de aprendizagem e sua interação com o conhecimento. O novo objetivo das escolas deve ser empoderar o aluno a usar a tecnologia para achar a sua voz, descobrir novas habilidades e compartilhar aprendizados. ;A tecnologia só vai substituir o professor que se recusa a utilizá-la. O papel do professor não é mais de detentor do conhecimento, mas de facilitador - aquele que desenvolve as habilidades para navegar nesse mundo;, declara. ;A habilidade que o professor mais precisa hoje é a de aprender;, completa.



A Thomas possui um domínio Google For Education, uma solução tecnológica desenvolvida para englobar diversas ferramentas educacionais gratuitas com o objetivo de aperfeiçoar o ensino e atrair cada vez mais os alunos, dentro e fora da sala de aula, a partir de um dispositivo conectado à internet. Vários profissionais da escola também possuem certificados de Google Educator, Google Trainer e Google Innovator, capacitações direcionadas ao desenvolvimento de habilidades educativas e organizacionais para lidar com as novas gerações e saber aproveitar o máximo de oportunidades que o mundo atual oferece. ;Eu sou da turma mais recente de Google Innovators do Brasil, e nós temos a proposta de desenvolver um projeto de inovação com a mentoria do Google. O nosso se chama Vision 2020, ou seja, uma visão de 2020 para a Thomas, que tem como objetivo elevar o nível da fluência e a competência digital dos nossos professores;, conta Clarissa. Cada unidade da escola conta com pelo menos um professor responsável, chamado mentor de inovação, que auxilia os demais membros do corpo docente no uso das novas tecnologias e sugestões de atividades. Os educadores também passam por um monitoramento constante da equipe pedagógica, que identifica o que é preciso melhorar e promove capacitações. Além disso, realizam encontros pedagógicos, seminários e até conferências internacionais de educação e tecnologia.
Durante a última conferência da International Society for Technology in Education (ISTE), que aconteceu em Chicago em junho deste ano, a equipe de inovação da Thomas conheceu a Fundação JDO, uma organização não governamental que promove a interação entre estudantes bilíngues do mundo inteiro para o desenvolvimento de projetos sociais. Os alunos entram em contato com outros alunos de escolas parceiras de outros países por meio de conferências online e trocam experiências, e os professores também realizam uma capacitação mútua para o desenvolvimento harmônico dos trabalhos. ;As turmas interagem por meio de vídeo conferência.; Os alunos também se comunicam one-on-one utilizando iPads para conversar com os parceiros de projeto;, conta Clarissa. ;E é uma forma de amizade. Esses dias, eles fizeram uma troca de receitas: nós fizemos as comidas típicas deles e eles fizeram as nossas, foi muito legal!”, acrescenta. Esse programa de interação está em fase piloto com alunos do Teens 6, ;a gente encuba e nossos consultores pedagógicos fazem todos os ajustes necessários para que o projeto tenha sucesso e seja significativo.;, explica a profissional em inovação.




As interações ocorrem em uma sala chamada Experience Space, um espaço diferenciado de aprendizagem com puffs, sofás, almofadas, estações de trabalho flexibilizadas para diversas atividades e paredes de lousa que podem ser rabiscadas com giz. A sala foi projetada para oferecer o máximo de recursos para a elaboração dos mais diferentes projetos que os professores e alunos desejem experimentar.
;Temos também um Makerspace, que foi inaugurado em 2015, mas desde 2013 embarcamos na cultura Maker em todas as unidades, levando nossos alunos a abraçar a cultura DIY. Hoje temos esse conhecimento bem estruturado e compartilhamos com outras instituições que nos procuram.;, afirma Lucia Santos. Esse espaço de criação também é aberto à comunidade, e os parceiros da escola o utilizam para oficinas, workshops, narrativas, feiras e outros projetos, tanto em inglês quanto em português.
Outra consultoria que a Thomas oferece às escolas é a implementação de um programa bilíngue. No ensino fundamental, o Thomas Bilíngue ou o Thomas Bilingue for Schools, uma consultoria oferecida às escolas de todo país; para o ensino médio, o High School - no qual o estudante recebe dupla certificação - a brasileira e a americana, uma opção que tem sido muito requisitada por pais e alunos nos últimos anos. A instituição também oferece o programa de High School dentro da Thomas.




Inovação desde a raiz

Em meio a tantas possibilidades de ferramentas e processos de aprendizagem, a Thomas optou por apresentar um novo formato de educação bilíngue para crianças de 3 a 14 anos, chamado Bilingual Adventure. ;Enquanto em um curso tradicional você consegue visualizar uma linha do tempo e saber quando foi exatamente que o aluno aprendeu determinado conceito, em um contexto bilíngue isso não ocorre. O aluno aprende de maneira espiralada. Ele aprende um conteúdo, retorna a ele em outro momento e o expande;, explica Denise De Felice, gerente da unidade Lago Sul e responsável pelo projeto. O que traz suporte ao projeto é a metodologia chamada Content and Language Integrated Learning (CLIL ; Aprendizagem centrada na integração de conteúdo e linguagem), em que os assuntos abordados em sala são escolhidos pelos próprios alunos, com base em curiosidade e interesse pessoal, e buscados em uma plataforma internacional de dados.

Essa metodologia é utilizada ao redor do mundo, e o grande diferencial da escola foi se preocupar com o desenvolvimento integral do aluno. ;Há um consenso quando se fala em inovação sobre os quatro pilares básicos, os chamados 4Cs: pensamento crítico, colaboração, comunicação e criatividade. O aluno que não adquire essas habilidades não conseguirá se desenvolver no novo mercado. Então, nosso projeto é elaborado de forma a capacitá-los a terem uma ideia, pensando no contexto social onde vivem, para solucionar um problema em equipe;, conta Denise. O projeto propõe experiências imersivas, sensoriais e que desenvolvem vários tipos de habilidade. ;Recentemente, os meninos estavam aprendendo sobre astronomia e construíram uma estação espacial no trepa-trepa do parquinho, com tanque de oxigênio, base de comando, tudo com objetos reciclados, e lá dentro eles exploraram várias situações do cotidiano dos astronautas;, relembra.

O interessante é que, nesse formato, cada criança pode seguir seu próprio ritmo de aprendizado e, ao mesmo tempo, as que possuem facilidade para aprender novos conteúdos também são constantemente desafiadas. ;Em um contexto de ensino tradicional, esse aluno pode se achar superior, não saber dividir, e achar tudo muito fácil. No Bilingual Adventure, esse aluno aprende a trabalhar em grupo e a respeitar as dificuldades dos colegas para realizar qualquer tarefa;, aponta a coordenadora do projeto. Outro conceito que passa a ser retrabalhado é a ideia de fracasso: ;em um modelo tradicional, os alunos que erram tiram zero, são criticados e rotulados. E, com isso, nós vemos a sociedade mergulhando em depressão. As taxas de suicídio são cada vez maiores porque as pessoas não aprendem a lidar com a frustração;, diz, ;e nós tentamos passar para o aluno que falhar faz parte da aprendizagem, que é preciso experimentar, tentar, errar, e que ele não vai ser criticado por isso;, completa. Denise cita o filósofo John Dewey, um dos pais das metodologias ativas que estão guiando a educação de vanguarda e que veem o erro como motor da aprendizagem: não é a experiência que conta, mas o processo de pensar ao longo dela.




Serviço
Casa Thomas Jefferson
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