postado em 20/04/2008 23:33
Enquanto a base do governo tenta blindar o acesso a gastos sigilosos da Presidência da República, técnicos da CPI mista dos Cartões correm por fora e já montaram um raio x das despesas do Palácio do Planalto. A comissão já sabe, por exemplo, que 1.676 saques foram feitos na boca do caixa da agência do Banco do Brasil no Palácio do Planalto, sendo que a maioria, 1.089, pertence a funcionários da diretoria de logística.
No total, os cartões corporativos da Presidência da República não sigilosos somam R$1.646.108,94 em saques e R$ 2.303.323,50 em compras diretas. Sendo que R$ 181.975.32 são de despesas no exterior, todas ligadas a serviços aeroportuários e autorizadas por Gilton Saback Maltez , diretor de Orçamento e Finanças da Presidência. Ele, aliás, aparece como um dos possíveis envolvidos na montagem do dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Técnicos da comissão já identificaram, por exemplo, que os pilotos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva são os campeões em recebimento de dinheiro nas chamadas contas tipo B, usadas, assim como o cartão corporativo, para as despesas eventuais. Os cinco primeiros, todos tripulantes, somam, juntos, R$ 2.519.611,23. Segundo um levantamento da CPI, Ivan Moysés Ayupe aparece em primeiro lugar com R$ 695.453,23, seguido de perto por Kennedy Fernandes Ferreira, com R$ 518.450,03.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pelos pilotos, alega que eles pagam em espécie as despesas dos vôos presidenciais, incluindo as taxas aeroportuárias. Recentemente, o Correio revelou dados de algumas dessas prestações de contas que vazaram do Palácio do Planalto para o Congresso.
Os técnicos da CPI querem agora cruzar esse mapa de informações com o material considerado sigiloso que será disponibilizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nos próximos dias. Um grupo de parlamentares, acompanhado por assessores, poderá avaliar os documentos. O presidente do tribunal, Walton Alencar Rodrigues, avisou a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), que preside a CPI, para não se animar muito. Segundo ele, o tribunal investiga isso por amostragem, ou seja, não se tem acesso a todos documentos e, por isso, não há como garantir que a CPI terá sucesso na análise desses papéis.
Mesmo assim, parlamentares da oposição prometem usar os cruzamentos já feitos com os dados que estão no TCU para chegar a alguma transação considerada suspeita. Por isso, fizeram um apelo a Marisa Serrano para que não haja nenhuma sessão esta semana. Os deputados de PSDB e DEM querem aproveitar os próximos dias para mergulhar nessa apuração. A senadora topou.
A oposição corre contra o tempo. Isso porque o relator da CPI, o deputado petista Luiz Sérgio (RJ), já avisou que pretende entregar seu relatório final no dia 27 de maio, dez dias antes da conclusão do prazo de investigação. Ou seja, os parlamentares têm pouco mais de um mês para avançar nos gastos presidenciais. Sabem que as próximas duas semanas serão fundamentais para os rumos da CPI, que nasceu desacreditada, ganhou um fôlego nos últimos dias com os documentos que chegaram, mas ainda não deu qualquer sinal de que será bem-sucedida.