postado em 25/04/2008 16:06
O dono da funerária Portal do Sol e presidente do Sindicato das Empresas Funerárias do Distrito Federal, Felismino Alves Ferreira, confirmou práticas irregulares no setor durante depoimento à CPI dos Cemitérios. Segundo o empresário, é um procedimento usual das funerárias a apropriação do DPVAT. O seguro ; que pode chegar a R$ 14,5 mil - é obrigatório e pago às famílias de vítimas fatais de acidentes de trânsito.
Como o desbloqueio do dinheiro pode demorar para sair em função da burocracia, as funerárias oferecem o serviço de intermediação. Para isso, exigem dos familiares uma procuração para que possam lidar com a papelada. A prática ocorre especialmente com as pessoas mais pobres e desinformadas, uma vez que elas não têm recursos para custear os serviços funerários e os recursos do DPVAT se tornam a única alternativa.
Felismino, que está no mercado há 30 anos, e é dono de 16 funerárias (seis delas no Distrito Federal e outras dez em Goiás) revelou também que os representantes do setor têm o costume de acompanhar a freqüência de rádio usada pela polícia para monitorar acidentes. A partir das informações, funcionários das funerárias se deslocam para o local de acidentes e fazem a abordagem da família o mais rápido possível na tentativa de fechar negócio.
O presidente do sindicato, no entanto, disse que muitas funerárias recebem informações privilegiadas de servidores dos próprios hospitais. Esses funcionários seriam contratados pelas funerárias para indicar serviços de determinadas empresas. ;É uma prática que ainda existe, sim. Mas que é muito difícil de provar;, afirmou.
Na quinta-feira, deputados membros da CPI fizeram inspeção em funerárias e constataram diversas irregularidades em uma das clínicas de Felismino, Portal do Sol, em Sobradinho. Entre os problemas detectados, está o acondicionamento irregular de vísceras dentro de um saco plástico próprio para uso doméstico. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os resíduos deveriam ser mantidos sob refrigeração.
Ao ser questionado sobre as irregularidades cometidas em seu estabelecimento, o dono da Portal do Sol entrou em contradição. Ontem, durante a visita dos distritais ele havia afirmado que desconhecia as regras de armazenamento das vítimas. Ele disse também que transportava os resíduos como lixo comum, despachando o material sem nenhum tratamento por meio dos caminhões do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Quando não, enterrava os detritos em covas abertas no Cemitério de Sobradinho, na área reserva ao serviço social.
Nesta sexta-feira, no entanto, o empresário afirmou que o ocorrido ontem foi uma eventualidade. Felismino disse que até mesmo ele havia ficado surpreso, já que estava em viagem no momento em que os funcionários fizeram a higienização do corpo, na madrugada de quarta-feira.