postado em 26/04/2008 15:03
Enquanto o governo busca caminhos para minimizar o dossiê com gastos de Fernando Henrique Cardoso, a CPI mista dos Cartões tenta encontrar um rumo. Até agora, foram 45 dias de um tiroteio de informações cruzadas entre governistas e oposição, a maioria concentrada em gastos pitorescos de autoridades. Restam outros 45 para o seu final. No Congresso, ninguém aposta, por enquanto, que a apuração sairá desse roteiro perdido.Ontem, foi a vez do senador petista João Pedro (PT-AM) ter os seus 15 minutos de fama. Ele convocou a imprensa e distribuiu notas fiscais com gastos do deputado Paulo Renato Souza (PSDB-SP), ex-ministro da Educação da gestão de Fernando Henrique Cardoso (leia mais na página 4).
A postura foi uma resposta ao deputado Índio da Costa (DEM-RJ) que, na quarta-feira, procurou os jornalistas para entregar notas de despesas dos ex-ministros José Dirceu e Olívio Dutra, do governo Lula. O deputado, aliás, se aproximou como nunca da imprensa nas últimas semanas. Ganhou fama por andar para cima e para baixo com notas fiscais debaixo do braço. Não perde a chance de dar uma entrevista.
Enquanto isso, um calhamaço de informações sobre os cartões corporativos entope as salas da CPI à espera de uma investigação mais profunda. Técnicos da comissão mergulharam no banco de dados enviado pelo Banco do Brasil e já prepararam 15 relatórios com um raio-x das despesas dos 11 mil cartões corporativos. A comissão já sabe, por exemplo, quem mais gastou, as empresas que mais venderam, os maiores sacadores, entre outras coisas.
Comidas e bebidas
A oposição, porém, tem dado pouca bola para isso. Optou por vasculhar as contas da Presidência da República em busca de algo que comprometa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Identificou comidas e bebidas caras, mas sonha com algo mais forte que possa balançar o presidente. Admite, porém, que a blindagem da Presidência em cima dessas informações prejudica a investigação.
Por outro lado, a base do governo se esforça pouco nessa CPI. Maioria na comissão, evitou até agora a aprovação de requerimentos que possam comprometer o Palácio do Planalto. Impediu, por exemplo, a convocação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para falar sobre o dossiê. E barrou os pedidos de abertura dos dados sigilosos da Presidência.
Os depoimentos, por sua vez, foram um fiasco. Os dois ministros suspeitos de uso irregular com o cartão, Altemir Gregolin (Pesca) e Orlando Silva (Esporte), pouco acrescentaram. A sessão que ouviu a ex-ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), que caiu em meio a denúncias de mau uso do cartão, parecia muito mais uma cerimônia em desagravo do que um depoimento sobre irregularidades.
O relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), avisou que apresentará em 27 de maio seu relatório final. Já sinalizou que não pedirá nenhum indiciamento. Fará um documento com propostas para aperfeiçoar o uso do cartão. Restará à oposição apresentar um relatório paralelo, que será derrotado pela maioria governista, o que confirmará o final melancólico previsto desde os inícios dos trabalhos.