postado em 03/05/2008 08:36
São Paulo ; Uma escuta telefônica feita pela Polícia Federal, em março deste ano, aponta detalhes do suposto envolvimento do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, no esquema de desvio de brecursos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Paulinho teria recebido propina dos integrantes da quadrilha. Em um relatório do setor de inteligência, a PF descreve uma conversa entre os empresários Manuel Fernandes de Bastos Filho e Marcos Vieira Mantovani, onde os dois falam sobre o recebimento de dinheiro, detalhando quem seriam os beneficiados.
;Manuel fala para Mantovani que ligou lá e saiu o restante dos 4 (milhões) que faltava e aí ele vai receber e já vai mandar fazer os cheques separados e confirma os valores de Mantovani, dizendo que era 73.590 mais 18.520, que dariam 92.110 (R$ 92.110,00);, relata o documento da PF. ;Mantovani confirma e questiona se Manuel perdeu as anotações. Manuel diz que tem uns rascunhos e volta a falar os valores acima mencionados e pede para Mantovani checar para ver se está certo;, acrescenta o relatório.
A conversa, segundo a PF, aconteceu em 17 de março, pouco depois das 12h. Nela, os dois empresários relacionam quem deveria receber e citam o nome de Paulinho, conforme o documento da Polícia Federal. ;Mantovani diz que tem mais do Ricardo (Ricardo Tosto de Oliveira Carvalho) e do Paulinho (;possivelmente; trata-se do deputado federal Paulo Pereira da Silva). Manuel diz que essa é a parte de Mantovani, conforme foi pago no outro;, relatam os policiais, durante as investigações que resultaram na Operação Santa Tereza, desencadeada em abril.
Mais adiante, ao analisar os áudios captados, o relatório faz algumas observações, detalhando como foram feitas as compras de notas fiscais e relatando que até aquela data (março) era impossível definir os valores exatos das parcelas recebidas pelos investigados. Os policiais afirmam que, só após analisar os documentos apreendidos com os dois empresários, isso seria possível, ;pois foram os que realizaram a divisão da ;propina; para os demais;, citando novamente os nomes de Paulinho e Tosto.
Conversas captadas anteriormente pela Polícia Federal mostram que outras negociações também estavam em curso, dessa vez relacionadas a uma prefeitura. Em 17 de março, às 11h47, Bastos Filho ligou para a empresa de Mantovani, que não estava no local. O empresário pediu que ele desse retorno ;para discutirem detalhes do pagamento que receberá, relativo à liberação de mais uma parcela do BNDES para a cidade de Praia Grande (SP);, diz o relatório da PF, acrescentando: ;Destaca-se que a cada liberação do BNDES a organização recebe uma porcentagem;.
O ;chefe;
Uma semana antes, João Pedro de Moura, ex-assessor de Paulinho, foi à sede do BNDES. Antes, liga para um auxiliar do deputado para avisar sobre a viagem e fala os motivos, segundo o relatório da PF. ;João Paulo pede para Gil (o provável assessor do parlamentar) para avisar o chefe que ele vai ter que encaminhar o negócio da Praia Grande lá no Rio de Janeiro, então não vai poder ir a Brasília essa semana. Pede para ele avisar, senão ele (chefe) reclama;, detalha o documento da Polícia Federal, observando que o ;chefe; seria o deputado.
Ricardo Tosto é um advogados mais renomados de São Paulo, tendo atuado na defesa de vários políticos e antes de ser preso foi indicado pela Força Sindical para o Conselho Administrativo do BNDES.
Segundo a Polícia Federal, ele seria um dos principais envolvidos no esquema. Tosto está internado em uma clínica de São Paulo e foi um dos liberados pela PF depois que prestou depoimento. De acordo com sua assessoria, não há nenhuma possibilidade de Tosto ter participado das fraudes.
O advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende o empresário Bastos Filho, afirmou que seu cliente não conhece Paulinho e não fez nenhuma divisão de dinheiro, além de não ter recebido recursos do BNDES, apenas fez a intermediação. Segundo Pacheco, isso não é ilegal. Bastos teve a prisão preventiva decretada, mas continua foragido. O advogado de João Pedro, Tales Castelo Branco, disse que seu cliente só falará em juízo. A defesa dos demais citados no relatório da Polícia Federal não retornou às ligações. Na quinta-feira, durante as comemorações do primeiro de maio, Paulinho da Força afirmou desconhecer as acusações.