Jornal Correio Braziliense

Politica

Lula não teme depoimento de Dilma no Senado

Alto escalão do governo está confiante de que a ministra-chefe da Casa Civil ficará tranqüila diante de integrantes de comissão do Senado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros desdenham da possibilidade de o depoimento da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, na próxima quarta-feira, minar eventual candidatura da ministra à Presidência ou reduzir a aprovação popular ao governo, que está no nível mais alto desde o início da gestão petista, em janeiro de 2003. No Palácio do Planalto, aposta-se que Dilma vencerá o duelo verbal com a oposição se não repetir o nervosismo da entrevista coletiva concedida, no início de abril, para rebater a acusação segundo a qual comandou a elaboração de um dossiê com gastos sigilosos realizados em nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. O discurso otimista do governo se sustenta em uma combinação de fatores. Um deles é o ;esfriamento; da crise dos cartões corporativos, que estaria retratado na perda de espaço do assunto no noticiário, segundo auxiliares do presidente. Nesta semana, por exemplo, o único fato novo levantado pelos deputados oposicionistas Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Índio da Costa (DEM-RJ) foi a suspeita de que servidores públicos fizeram compras com cartões corporativos em lojas das quais são ou foram sócios. Nada que atinja diretamente o primeiro escalão da administração federal. Destilando ironia, ministros lembram que a própria oposição ajudou Dilma ao adiar em uma semana o depoimento, previsto inicialmente para 30 de abril, só para esticar por uma semana o feriado do Dia do Trabalho. Auxiliares do presidente alegam ainda que a operação de proteção à ministra foi realizada com sucesso. Primeiro, o ministro da Justiça, Tarso Genro, divulgou a tese de que o único crime possível no caso do dossiê foi o vazamento de informações sigilosas. Segundo ele, a prática pode até ser condenável do ponto de vista ético, mas não é delito. Para consolidar a blindagem a Dilma, o titular da Justiça ainda convenceu o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência a alegar para a Polícia Federal, responsável pela investigação do caso, que informações sobre ex-presidentes não são sigilosas. A divulgação de dados sobre FHC, portanto, nem seria crime. Tal argumento não convenceu, pelo menos por enquanto, a PF. ;Como a oposição quer pegá-la, há mais gente solidária a Dilma neste momento;, disse um ministro. Ele lembrou ainda que só um terço da população acompanha a CPI dos Cartões Corporativos, conforme pesquisa CNT/Sensus divulgada na última segunda-feira. O assunto, acrescentou, não estaria no rol de prioridades dos eleitores. De acordo com dois ministros com gabinete no Planalto, Dilma pode sair fortalecida do depoimento caso enfrente a oposição e não responda só a perguntas sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O teste injetaria na ministra ;anticorpos políticos;, fortalecendo-a para eventual campanha à Presidência em 2010. Como ela não usa o bambolê que ganhou de presente da bancada do PMDB, lhe daria uma oportunidade de ouro para ganhar jogo de cintura, uma credencial fundamental, como ressaltou o presidente Lula em entrevista aos Diários Associados publicada no domingo passado. ;A Dilma é de uma capacidade de gerenciamento impecável. E, sobretudo, é aquilo que a gente gosta, caxias. Agora, entre ser uma figura extraordinária para gerenciar e ser candidata à Presidência é uma outra conversa, porque aí entra um ingrediente chamado política, que exige outras credenciais;, declarou Lula.