postado em 04/05/2008 11:42
SÃO PAULO ; Calado desde que foi preso, no mês passado, João Pedro de Moura, ex-assessor do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), é a principal testemunha que poderá incriminar o parlamentar na investigação que apura o desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A PF aposta nas chances de ele contar detalhes do envolvimento do deputado. Moura é citado várias vezes no relatório policial, que o qualificou como o ;responsável pela ligação da quadrilha com o banco;. A quadrilha foi desmontada após investigação feita em um flat em São Paulo que seria palco de exploração de prostituição pelos envolvidos no caso do BNDES.
Nas várias escutas telefônicas feitas com autorização judicial, Moura é flagrado falando sobre dinheiro do banco. De concreto, a PF conseguiu detectar desvios de 4% de cerca de R$ 350 milhões financiados pelo BNDES, durante as investigações da Operação Santa Tereza, que prendeu 11 pessoas em abril passado. Entre eles, o ex-assessor de Paulinho, que chegou a dar expediente no gabinete do deputado.
;João Pedro mantém contatos e reuniões freqüentes com políticos, prefeitos, vereadores, assessores, e outros, aos quais requer liberações de verbas para obras que serão possivelmente objetos de desvios em proveito próprio;, diz o relatório da PF. O documento relata diversas escutas telefônicas e o acompanhamento de Moura feito por agentes do serviço de inteligência. ;João Pedro foi ao BNDES. Às 17h49m, João liga para Mantovani (o empresário Marcos Vieira Mantovani, também ligado ao esquema, segundo a PF) e fala como foi a reunião, dizendo que o resultado foi positivo (presume-se que ele conseguiu mais autorizações para financiamentos);, relata a investigação.
Assessor da Força Sindical, Moura demonstrava grande habilidade em negociar empréstimos do BNDES, onde chegou a integrar o conselho de administração, cedendo seu lugar para o advogado Ricardo Tosto de Oliveira Carvalho, também preso na Operação Santa Tereza. ;Nos dias que antecederam a reunião (no BNDES), João Pedro falava com Mantovani sobre um projeto de construção de uma rodoviária em Campinas, com financiamento do banco;, relata a PF, concluindo que, após o encontro no BNDES, Moura liga novamente para o empresário e comemora: ;foi show de bola;.
Segundo o advogado Tales Castelo Branco, que faz a defesa de Moura, ele só vai falar em juízo, pois não teve acesso à investigação e não sabe do que está sendo acusado. Em escutas telefônicas, há suspeitas de que Paulinho tenha sido beneficiado com recursos do BNDES. O deputado afirmou desconhecer as acusações. Na sexta-feira, o Ministério Público Federal em São Paulo enviou o inquérito para o Supremo Tribunal Federal (STF), para que seja avaliada a situação do deputado.
O juiz da 2ª. Vara Federal Criminal de São Paulo, Márcio Ferro Catapani decretou a prisão preventiva de três das seis pessoas que estavam presas temporariamente, incluindo Moura, Mantovani e José Carlos Guerreiro, dono de uma construtora que participava das fraudes.