Politica

Empregos, renda e o medo da seca

Prefeitos saúdam investimentos de empresas plantadoras de eucaliptos, enquanto moradores temem o risco de impacto sobre a flora e a fauna da região

postado em 05/05/2008 10:00
Candiota, Alegrete e São Gabriel (RS) ; A expansão das plantações de eucaliptos é vista como a redenção econômica da Metade Sul do Rio Grande do Sul, uma região empobrecida e com poucas oportunidades de emprego. Prefeitos e secretários municipais saúdam os novos investimentos e não parecem preocupados com o possível impacto dessa cultura exótica sobre a fauna e a flora da região. O secretário do Meio Ambiente de Alegrete (RS), Milton Araújo, não acredita em prejuízos ao meio ambiente. ;Eu não acredito, porque a natureza está à disposição da sobrevivência do homem. Nós temos que ter desenvolvimento com responsabilidade ambiental para que possamos cuidar do social. Temos que ter bom senso, mas não existe processo de desenvolvimento empresarial e industrial que não tenha um certo grau poluidor;, diz. A multinacional sueco-finlandesa Stora Enso está comprando terras no município, distante 487km de Porto Alegre. No município de Candiota (RS), distante 390km da capital, a escassez de água já é apontada como consequência da chegada dos eucaliptos há cerca de três anos. Marciano Rodrigues Santos, dono de um tambo (cultura de leite) ao lado da fazenda Aroeira, da Votorantim, afirma que havia água na sua chácara nos anos anteriores. ;Tentaram fazer um açude no ano passado, mas o trator atolava. Agora, com os eucaliptos, secou tudo;. Ele mostra o que era um banhado próximo a sua casa. Está completamente seco. E acrescenta: ;Um açude dentro da fazenda (Aroeira) também está secando;. Ele acompanha a reportagem até o açude, que mostra quase todo o seu leito. ;Esse açude sempre esteve cheio;, afirma. Logo após fotografar o açude, o Correio foi abordado pela segurança da fazenda, em duas caminhonetes cabine dupla, e convidado a seguir até a sede. Lá, enquanto esperamos por representantes da Votorantim, observamos o mapa da fazenda, que registra a plantação de 2.234 hectares de eucaliptos e 1.084 de acácia negra. Há, ainda, uma reserva de 1.146 hectares para pecuária e 439 para agricultura. Após uma espera por 40 minutos pelos representantes da empresa, em vão, a viagem continuou, agora para falar com o prefeito de Candiota. O prefeito Marcelo Gregório (PMDB) destaca a coordenadora do Departamento de Meio Ambiente, Ketleen Grala, para falar sobre as florestas no município. Ketleen é fervorosa defensora do projeto. ;Há um ranço em relação ao eucalipto. Se fizerem a floresta muito adensada, como era antigamente, tem problemas. Mas não agora. É um projeto muito bem planejado ambientalmente. Eles deixam 40% da área para preservação ambiental, protegem matas nativas, cursos d;água. Eles plantam para o mercado internacional, precisam de certificado ambiental;, argumenta. Ela acrescenta que o empreendimento gera empregos, novos impostos e vai desenvolver a região conhecida como Metade Sul. Afirma que o município terá um acréscimo de R$ 2,8 milhões em impostos quando começar o corte de eucaliptos. Empregos O prefeito de São Gabriel (RS), a 320km de Porto Alegre, Baltazar Balbo Teixeira (PR), está entusiasmado com a chegada da Aracruz ao município. ;Eles estão fortalecendo a nossa economia. Já criaram 500 empregos diretos. E também ganham as empresas locais, que transportam trabalhadores para as florestas, fornecem alimentos, fazem a segurança. A região estava com falta de empregos. Isso movimenta a cidade, até o pipoqueiro ganha;. Ele contesta as afirmações de ambientalistas de que a região será transformada em um ;deserto verde;. ;Isso não me convence. Eles querem plantar 25 mil hectares. Isso representa 5% da área do município;. Questionado sobre os possíveis impactos do eucalipto no meio ambiente, responde: ;Não posso falar sobre isso porque não conheço o assunto;. ;=false;=320;=240'/> Balbo informa que todos os proprietários rurais que venderam terras no município eram de fora, não moravam na cidade. Não ficaram para contar por que venderam suas fazendas. A reportagem visitou a fazenda Paraíso, de 2.145 hectares, em Santa Margarida (RS), município que foi desmembrado de São Gabriel. Adão Alves, vizinho da floresta de eucalipto, afirma que o emprendimento já trouxe cerca de 300 empregos, mas para pessoas que moram em São Gabriel. Diz que não há problemas de água na região. ;Não tem problema porque é recente, mas se calcula que vão secar mais as terras;, comenta. Nery Eires, que mora ao lado, afirma que ;as águas sumiram, mas isso é normal nesta época;. Para ele, o único problema é que surgiram muitos sorros (predadores de cordeiros). ;Para criar cordeiro, só encerrado (confinado);, lamenta.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação