postado em 06/05/2008 08:42
Fray Bentos (Uruguai) ; Uruguaios e argentinos brigam há três anos por causa da instalação da fábrica de celulose da finlandesa Botnia em Fray Bentos, no Uruguai. Moradores de Gualeguaychú, na Argentina, afirmam que a fábrica vai poluir o Rio Uruguai com o lançamento de dejetos e produtos químicos. A ;guerra das papeleiras; foi parar no tribunal de Haia, das Nações Unidas. Os uruguaios venceram a batalha, pelo menos por enquanto, mas os protestos continuam. Em 20 de abril, a ponte sobre o Rio San Martín, que liga os dois países, estava fechada pelos argentinos. Não era possível atravessá-la nem mesmo caminhando.
O governo argentino e ambientalistas de todo o mundo exigem a modernização do processo de produção de celulose. Primeiro, querem a eliminação do cloro no processo de branqueamento do eucalipto para produção da pasta de celulose. Também exigem a eliminação total dos efluentes das fábricas de celulose, todos altamente corrosivos. Ao tratar e reciclar os efluentes será possível reduzir a quantidade de água empregada e eliminar as descargas tóxicas. O governo uruguaio e as pasteiras afirmam que as suas plantas industriais adotam as tecnologias mais modernas e não oferecem riscos ao meio ambiente.
A Botnia chegou ao Uruguai em 2003 e iniciou o processo de implantação da sua base florestal. A partir de 1998, o governo uruguaio havia autorizado as plantações de maciços florestais. Em fevereiro de 2005, o governo aprovou a construção da fábrica em Fray Bentos, que funciona como uma zona franca, com isenção de impostos para os produtos destinados à exportação. Tabaré Vázquez assumiu o governo em março daquele ano e deu apoio ao projeto finlandês. Provocou a primeira grande manifestação dos argentinos, que colocaram milhares de pessoas sobre a ponte San Martín.
Hoje, a espanhola Ence também se prepara para implantar a sua fábrica, com capacidade para 500 mil toneladas de celulose ao ano, metade do que vai produzir a planta da Botnia. As florestas de eucalipto se estendem por várias regiões do país. Segundo os ambientalistas, ocupam cerca de 1 milhão de hectares. Mas estudos acadêmicos apontam cerca de 700 mil hectares. A sueco-filandesa Stora Enso, que já comprou 48 mil hectares para implantar florestas no Brasil, também adquiriu terras no Uruguai, na região de Taquarembó. As florestas de eucaliptos ocupam as margens da estrada que liga essa cidade a Rivera, na fronteira com o Brasil. Nas proximidades de Mercedes, no departamento de Durazno, há um maciço com cerca de 30 quilômetros de extensão.
Pesquisadores da Argentina, Uruguai e Estados Unidos analisaram os efeitos da implantação de florestas de silvicultura. Carlos Perez Arrarte, pesquisador do Centro Interdisciplinário de Estudos sobre o Desenvolvimento, aponta em livro algumas das conclusões. Uma delas é que as plantações de florestas acidificam o solo e a água dos arroios, devido à elevado acumulação de cálcio e magnésio. O impacto das mudanças sobre a acumulação de alumínio no solo e na água é ainda desconhecido. Nas situações em que o lençol freático se encontra perto da superfície, as árvores podem sugar essa água, salinizando o solo. Um estudo da Faculdade de Ciências da Universidade do Uruguai afirma que as plantações de florestas reduzem o rendimento hidrológico em cerca de 70% em relação à vegetação original.