postado em 09/05/2008 08:04
O secretário de controle interno da Presidência da República, José Aparecido Nunes Pires, foi quem repassou por e-mail a um assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) o dossiê com os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na noite de dessa quinta, Dias informou ao comando do PSDB que seu assessor André Fernandes recebeu o documento no dia 20 de fevereiro deste ano. ;Isso realmente ocorreu;, disse o tucano, destacando que foi autorizado pelo seu funcionário a confirmar a informação.Um e-mail com o arquivo do dossiê foi identificado na investigação do Instituto de Tecnologia da Informação (ITI), vinculado à Casa Civil, comandada pela ministra Dilma Rousseff. A própria ministra acionou o ITI para realizar auditoria nos computadores do órgão.
José Aparecido Nunes é um servidor remanescente do período em que José Dirceu chefiou a Casa Civil. Ligado ao PT, é funcionário de carreira do Tribunal de Contas da União (TCU). Ele admite a troca de e-mails com André Fernandes, mas nega que tenha anexado o dossiê em alguma das mensagens, embora Dias confirme que o arquivo saiu do e-mail do servidor da Casa Civil (leia abaixo).
Agora, o PSDB adotará o discurso de que está comprovado que o dossiê foi produzido dentro do Palácio do Planalto. Em relação a Álvaro Dias, os tucanos sairão em sua defesa alegando que ele apenas recebeu o dossiê e preservou sua fonte, no caso, o próprio assessor. O senador já havia admitido no mês passado ter recebido o documento. Foi criticado pela base governista por não revelar de onde saiu o material. Na época, Dias alegou que tinha o direito de preservar quem o enviou.
A primeira atitude do PSDB na próxima semana será tentar chamar o secretário de controle interno do órgão para depor no Senado. Como o governo tem maioria na CPI mista dos Cartões, a tática é tentar levar o servidor para alguma comissão, como foi feito com a ministra Dilma, chamada para falar diante da Comissão de Infra-Estrutura na última quarta-feira. ;Meu sentimento me diz que ele (José Aparecido) deve falar a verdade inteira, quanto mais rapidamente ele fala, mais rapidamente o Brasil ficará tranqüilo em relação ao episódio de um dossiê feito para intimidar os adversários;, disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
O nome de José Aparecido surgiu logo no começo da crise em torno do dossiê. Setores do Planalto mencionaram o possível envolvimento dele no episódio. Logo depois, outras pessoas surgiram no rol de suspeitos, como a secretária-executiva da pasta de Dilma, Erenice Guerra. A oposição aposta que ela pode ter sido a mandante da elaboração do documento. Nessa quinta, a Casa Civil informou que só vai se pronunciar após o término da apuração.
A descoberta de que um servidor do palácio remeteu por e-mail o dossiê para o Congresso ocorreu um dia depois do depoimento de Dilma ao Senado. O governo comemorou o desempenho da ministra perante os senadores. Agora, precisará adotar uma estratégia para reagir aos ataques que virão da oposição.
Polícia Federal
A troca de mensagens entre José Aparecido e André Fernandes é a principal linha de investigação no inquérito aberto pela Polícia Federal para apontar quem produziu e vazou o dossiê. Nessa quinta, o juiz José Airton de Aguiar Portela, da 12; Vara Federal de Brasília, prorrogou por 60 dias o prazo da apuração. O delegado da PF Sérgio Barbosa Menezes, encarregado do inquérito, já ouviu pelo menos quatro servidores da Casa Civil desde o início da apuração, em 7 de abril. E, nessa segunda fase, pretende interrogar as pessoas que teriam sido encarregadas de coletar e organizar o banco de dados com informações da gestão Fernando Henrique.
Além de José Aparecido, fariam parte do grupo Erenice Guerra; o secretário de Administração, Norberto Queiroz; a chefe-de-gabinete de Erenice, Maria de La Soledad Castrillo, que também responde pela Diretoria de Logística; e o responsável pela Diretoria de Orçamento e Finanças, Gilton Maltez. O delegado também aguarda a conclusão da perícia realizada pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) nos computadores apreendidos na Casa Civil assim que o inquérito foi aberto. No total, 13 máquinas foram recolhidas na Presidência.