Politica

Governo teme que depoimento de José Aparecido comprometa assessora de Dilma

Aliados pressionam para Erenice Guerra, secretária-executiva da Casa Civil e braço direito da ministra Dilma Rousseff, ser demitida

postado em 13/05/2008 09:20
Setores do governo já defendem a saída da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, do cargo para estancar a crise em torno do dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Querem, no entanto, esperar para saber até que ponto o secretário de Controle Interno da Presidência da República, o petista José Aparecido Nunes Pires, pode comprometê-la. Ele deve depor nesta quarta ou nesta quinta-feira (14 ou 15/05) à CPI mista dos Cartões, assim como André Eduardo da Silva Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que recebeu um e-mail de José Aparecido com o dossiê anexado, segundo laudo elaborado pelo Instituto de Tecnologia da Informação (ITI). Fernandes depôs ontem à Polícia Federal e entregou provas de que recebeu o documento. Ontem, o governo decidiu aceitar a convocação de Aparecido para falar ao Congresso. Espera que ele assuma toda a responsabilidade pelo episódio, diga que teve acesso ao banco de dados de suprimento de fundos da Casa Civil e elaborou sozinho o arquivo enviado ao Congresso. Se ele não fizer isso e atirar durante a audiência, os governistas afirmarão que o petista mentiu no depoimento. ;Cada coisa na sua hora. Para que fazer um novo adversário, se você ainda não sabe se ele é adversário?;, declara um auxiliar do presidente Lula, sobre a possibilidade de demissão de Erenice. Se a crise continuar após o depoimento de Aparecido, aumentará a pressão para a saída de Erenice. O problema seria convencer a ministra Dilma, que tem sua secretária-executiva como braço direito no Palácio do Planalto. Erenice não faz nada sem o aval de Dilma. Sua demissão significaria que a ministra não sabe o que a subordinada andou fazendo ou, pior, que só poderia ter feito o dossiê com a sua autorização. Para se precaver e evitar um imprevisto no depoimento de José Aparecido, o governo busca um pacto de não-agressão com a oposição. Nesta segunda-feira (12/05), enviou o senador Tião Viana (PT-AC) como emissário para conversar com Álvaro Dias. No fundo do plenário do Senado, Viana pediu a Álvaro que não parta para o confronto com José Aparecido. Em troca, prometeu cortesia da base do governo no tratamento ao senador durante a sessão da CPI. O senador tucano respondeu que elevará o tom somente como forma de reação a uma eventual agressão. Governistas ameaçam convocá-lo para depor na comissão de inquérito, enquanto a oposição quer tentar levar Dilma para falar à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O requerimento para chamar a ministra deve ser votado nesta quarta-feira (14/05). A decisão de topar a convocação de José Aparecido foi tomada numa reunião ontem à tarde no Palácio do Planalto entre o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e o ministro de Relações Institucionais, José Múcio. O ministro convenceu o senador de que seria menos pior para o Planalto aceitar ouvi-lo no Congresso. Não haveria discurso suficiente para dizer o contrário. ;Se o governo votar contra a convocação, vai parecer que está querendo esconder alguma coisa;, disse o ministro. ;Dos perigos, o público;, acrescentou. Múcio sinalizou ao líder que, se o roteiro combinado for mantido, José Aparecido deve assumir a culpa. O governo quer vender a versão de que o secretário repassou o dossiê ao assessor de Álvaro Dias numa atitude meramente pessoal. Tudo não teria passado de uma conversa entre amigos. Não haveria qualquer ordem para enviar o material para o Congresso. ;Foi uma quebra de confiança;, afirma Jucá. O líder chegou a afirmar que José Aparecido havia se afastado do cargo, mas a Casa Civil não confirmou as informações. O governo vai insistir na tese de que as informações que estão no dossiê, que contém despesas de Fernando Henrique e Ruth Cardoso, não são mais sigilosas desde dezembro de 2007. O prazo de cinco anos sob segredo já teria passado. Ou seja, não houve crime algum no manuseio desses dados. A PF, porém, não promete seguir à risca essa história. Dirceu joga pesado O ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu atacou nesta segunda-feira (12/05), em seu blog, a oposição e o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que, segundo ele, esconderam informações sobre o vazamento do dossiê sobre gastos do governo FHC. No texto, Dirceu faz críticas também à imprensa e nega a existência do dossiê. ;Houve, sim, um factóide típico dos tempos em que vivemos;, afirma. ;O cinismo e o ódio da oposição não têm limites. Mas, esses sentimentos só sobrevivem, e nessa proporção, pela conivência e apoio da nossa mídia (...) a imprensa sabe de onde e de quem partiu o vazamento ilegal e criminoso (...) Quem tinha a informação e não assumiu que a divulgou foi a oposição, o senador tucano Álvaro Dias;, aponta o ex-ministro. Dirceu afirma que, mesmo que fique provado que o informante sobre os dados da Casa Civil tenha sido o assessor José Aparecido Nunes, ;isso não exclui Álvaro Dias, André Fernandes e a oposição de suas responsabilidades no caso;.

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