Politica

Gasto público: Ibama mantém apartamentos

Há 14 anos, imóveis estão vazios em prédio de luxo. Eles custam R$ 1 milhão e consumiram desde então R$ 235 mil em taxas de condomínio

postado em 18/05/2008 08:32
Dois apartamentos funcionais administrados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), na SQS 107, estão desocupados há 14 anos, segundo informa a síndica do bloco J, Norma Carvalho. Estão em mau estado de conservação, com vidros quebrados, e causam problemas aos vizinhos, principalmente com a proliferação de baratas. O instituto paga R$ 1,4 mil de condomínio pelos dois imóveis, o que resulta numa despesa anual de R$ 16,8 mil. Ao longo de 14 anos, teriam sido desperdiçados R$ 235 mil. O Ibama informa que conta com cinco imóveis na sua reserva técnica, sendo três apartamentos, uma casa e uma sala comercial, e que já solicitou à União a devolução de todos eles.

;É uma vergonha mesmo! Está todo sujo que dá até nojo. Tive que colocar uma cobrinha (saco de areia) embaixo da porta para barrar as baratas;, comenta a síndica, que está na função há 19 anos. Ela é vizinha de porta de um dos apartamentos do Ibama, o número 404. Há poucos meses, o condomínio teve de fazer um conserto nos encanamentos que correm por uma coluna, passando pelo 404. ;Tive de mandar fazer uma chave para abrir o apartamento. Eles não deixam chave. Se pegar fogo, queima tudo;, preocupa-se Norma. O porteiro José Neris conhece os dois apartamentos por dentro. ;Tem muitos vidros quebrados;, informa.

Com quase 50 anos, o bloco foi completamente reformado. Tem portarias luxuosas e pilotis bem cuidados, com piso de granito. A quadra é bem arborizada. Cada apartamento custa hoje cerca de R$ 1 milhão. Alguns deles são alugados, pelo valor de R$ 2,8 mil. A síndica só não se queixa do Ibama quando o assunto é o pagamento do condomínio: ;Pagam sempre em dia. Isso é trem do governo. O governo é muito rico;. Ela colaborou com a reportagem, na expectativa de que o Ibama faça, pelo menos, uma dedetização no apartamento: ;Agora vou ficar livre das baratas;.

O desperdício de dinheiro é ainda mais grave porque o Ibama vem enfrentando problemas de orçamento nos últimos anos. No final de 2006, as unidades do instituto dos estados chegaram a ter uma dívida de R$ 26 milhões com fornecedores de energia elétrica, combustível, material de escritório e empresas de segurança que fazem a vigilância dos parques florestais. Em novembro de 2007, o Ibama publicou edital, informando que precisava alugar um prédio de 9,6 mil m; para instalar a sede do Instituto Chico Mendes. O aluguel custaria R$ 300 mil.

Devolução
A Gerência Regional da Secretaria do Patrimônio da União, órgão do Ministério do Planejamento, informa que o Ibama realmente solicitou a devolução dos seus imóveis, mas somente no ano passado. A gerência não tinha informações sobre o estado de conservação dos imóveis administrados pelo órgão porque essa é uma atribuição da autarquia. Atualmente, ainda restam 1.500 imóveis funcionais da reserva técnica da União em Brasília.

O Correio procurou o Ibama há um mês e solicitou informações sobre os apartamentos desocupados na SQS 107. A autarquia apenas informou que administra cinco imóveis e quer devolvê-los, mas não esclareceu por que os dois apartamentos estão vazios há tanto tempo, não permitiu visita aos mesmos nem prestou informações sobre a localização e características dos outros três imóveis. A reportagem insistiu na busca de informações na última sexta-feira, mas a direção do Ibama disse apenas que não se pronunciaria a respeito do assunto.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação