Politica

Alvo de processo contra quebra de decoro, Paulinho culpa Kassab e Serra

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postado em 05/06/2008 07:42
Alvo de processo na Câmara por quebra de decoro, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) enfim revela quais, na sua opinião, seriam os responsáveis pela pressão que vem sofrendo: grupos ligados ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e ao prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM). Foi o que ele disse em entrevista ao Correio. Paulinho pode perder o mandato por causa das acusações de ligação com o esquema de desvio de dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para a Polícia Federal, está clara a participação dele no episódio. Ele teria recebido dinheiro da quadrilha que cobrava propina para liberar empréstimos do banco. Apesar dos indícios da polícia, sua linha de defesa é dizer que seu nome foi usado indevidamente pelos envolvidos no esquema. Ele garante que o caso tomou essa proporção por causa de perseguição política originada numa disputa em São Paulo. Paulinho afirma que sofreu uma investigação clandestina da Polícia Civil paulista em 2007, logo depois de receber em casa o prefeito Kassab para tratar de aliança política. Em tom de ameaça, deixa um mistério no ar. ;E não estou querendo falar agora. Se eu falar, cai a República de São Paulo;. Ouça aqui trechos da entrevista: Paulinho afirma que polícia fez investigação clandestinamente Deputado Paulinho diz ser inocente A PF diz que há uma ;clara; participação do senhor no esquema do BNDES. Um ex-assessor seu, João Pedro Moura, foi preso. O senhor falou com o advogado Ricardo Tosto dias depois da Operação Santa Tereza. A polícia cita ainda cheques. Os nomes PA e Paulinho aparecem nas escutas. Um e-mail interceptado diz que PA é o senhor. Não fica difícil sair dessa cadeia de informações? O que tem nisso tudo? Uma ligação de uma pessoa, João Pedro, para o Marcos Mantovani (dono da Propus, empresa ligada ao esquema). Essa é a única verdade na história. Ele fala com outra pessoa e cita meu nome. O próprio João Pedro e o Mantovani disseram que usaram meu nome indevidamente. Que vantagem levariam dizendo seu nome num contexto de divisão de dinheiro para o senhor? Segundo as gravações, havia uma briga entre eles para ver quem ficava com a maior parte. E usaram meu nome exatamente para ter mais vantagem. O João Pedro esteve na Câmara por 39 vezes, sendo 12 vezes no seu gabinete. A PF diz que ele usou um cartão de visitas do seu gabinete. O senhor sabia disso? Claro que não. Ele inventou o cartão. Falsificou um cartão meu para se apresentar como um assessor. E obter vantagem. Ele não é assessor. Ele fez um cartão que não era autorizado a fazer. O presidente Lula afirma que não sabia do esquema do mensalão, a ministra Dilma também diz que foi traída no caso do dossiê. Todo mundo diz que não sabia.. No meu caso, eu digo o que eu sei. Estou contando o que sei. Mas não estou sendo ouvido. No Conselho de Ética, serei ouvido. Agora, vou ter mais oportunidade. Já passa por sua cabeça a possibilidade de ser cassado e ficar inelegível por, pelo menos, oito anos? Isso não. O que preciso fazer é mostrar para todo o Brasil que foi uma perseguição e uma injustiça que cometeram comigo porque estou defendendo os interesses dos trabalhadores. O senhor tem dito que é vítima de perseguição. Quem faria isso e por quê? Passei a ser o deputado que articula as centrais sindicais. Nós estávamos acuados. Tentaram dividir os trabalhadores. E agora estamos juntos. Isso incomoda. Quem? Grandes empresários do cenário nacional e políticos importantes. Da base do governo ou da oposição? Tem alguns da base, mas é a oposição. Eles me consideram um traidor. Porque eu vim para cá e a gente juntou as centrais sindicais, CUT e Força. Quando juntou, consideraram uma traição. Em São Paulo, o senhor tinha uma ligação próxima com PSDB, hoje se afastou. A investigação da PF foi feita lá. Na sua opinião, o PSDB paulista pode estar por trás disso? São eles que o chamam de traidor? Eu acho que sim. Mas vou dizer mais. Eu cometi uma falha nesse processo todo (ao não denunciar para a imprensa). Começou uma investigação sobre mim em São Paulo em setembro no ano passado, achei que era um seqüestro da minha filha (Juliana). Ela me ligou e disse ;pai, estou sendo seguida;. E eu falei para ir a uma delegacia. Isso foi por volta de setembro (do ano passado). Eu pensei que fosse seqüestro. Eu pedi para o coronel da Polícia Militar Wilson Consani Júnior verificar. Passaram uns dias, e ele me procurou. E disse: nós constatamos que é Polícia Civil. A polícia tinha uma casa alugada ali perto da sede do PDT, na Vila Mariana. Aí deram uma batida na casa, e quase morreu gente. E os caras se identificaram e disseram que quem os mandou foi o alto comando da Polícia Civil. E o Consani falou: Paulinho, não sei se é bom ou ruim. O bom é que não é seqüestro. O ruim é que a Polícia Civil, que, quando não tem prova, fabrica. E, para me prevenir, fui ao Ministério Público e dei um depoimento no dia 18 de outubro. E procurei o Lupi (ministro do Trabalho, Carlos Lupi, então presidente do PDT). Não tinha como não falar que era o Serra, a Polícia Civil. A Polícia Civil estaria investigando o senhor clandestinamente, é isso? Sim, e estava investigando minha filha. Eu dei um depoimento no dia 18 de outubro ao Ministério Público. E isso aconteceu, eu peguei esse negócio e dei para a Veja. Só que a revista queria que eu falasse com ela, mas o ministro Carlos Lupi não deixou eu fazer. Aí, o que aconteceu? Contaram para os caras, e eles mudaram de polícia. Por que o PSDB teria feito isso? Porque você sabe como funciona uma eleição. Tem um prefeito. Nos mantivemos uma independência do PDT em São Paulo. Não compusemos com o Serra para governador, fui candidato a prefeito. Agora eles faziam questão de contar com nosso partido. E nós fizemos uma guerra para o secretário (Geraldo Vinholi), nomeado na época do Serra, entregar o cargo na prefeitura do Kassab. Nós rompemos. Há um dedo do governo estadual nessa história então? Alguém do governo estadual está nisso. Isso tudo aconteceu porque, durante todo o tempo em São Paulo, o PDT manteve a independência. E isso incomodou. Tentaram o tempo todo controlar o nosso partido para ter pelo menos a metade com eles. Por isso, enfrentei para retirar o partido da base do Kassab. O Kassab esteve na minha casa duas vezes. O Kassab foi fazer o que? Dizer que não era candidato, mas queria manter uma boa relação conosco. Eu disse que nossa tendência era ter candidato. E vou parar por aqui. Depois disso, teve a perseguição em São Paulo. O coronel Consani vai falar isso para a Polícia Federal. E qual a relação disso com as recentes denúncias de desvio no BNDES? Se eu tivesse denunciado, eu falaria tudo o que aconteceu. E não estou querendo falar agora. Se eu falar, cai a República de São Paulo. Alguém ofereceu dinheiro? Não posso falar nada. Por que cairia a República de São Paulo? Porque tem muito problema. Se eu tivesse denunciado, tinha me prevenido dos supostos envolvimento nessas coisas. Por que falo de armação? Quem inflou essa historia? Alguém que quer me detonar. Num telefonema para o Tosto, o senhor fala em pedir esclarecimentos ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e até mesmo em chamar o ministro Tarso Genro para depor. O senhor não foi longe demais? Não foi intimidação? O que eu falei foi normal. O Ricardo Tosto saiu da PF e foi para casa dele, e eu liguei para dar solidariedade. Ele me disse o que estava acontecendo. Ai eu disse que eu iria procurar em Brasília falar com as pessoas. O ;mexer os pauzinhos; era isso. A Policia fala que o senhor recebeu um cheque de R$ 18 mil. Esse cheque existe? Eu abri minhas contas, meus sigilos bancário, fiscal e telefônico. Não posso falar sobre isso. Quando falaram do projeto Meu Guri, a primeira coisa que fizemos foi um documento liberando o sigilo bancário e fiscal do projeto. E também falam nisso, que o centro recebeu R$ 1,3 milhão do BNDES. Nós construímos uma verdadeira cidade na Serra da Cantareira. O BNDES auditou e aprovou todas as contas. Dizem que o baixo clero não gosta muito do senhor. Que o senhor chegou querendo dominar, arrogante. Essa fama não pode levar a uma cassação de mandato? Não é essa a impressão que as pessoas tem de mim. Posso até ser cassado por outros entendimentos, mas minha relação é muito boa. Lógico que as vezes tem confronto por causas. A questão mais tensa foi a das centrais sindicais, do imposto sindical. E tivemos confronto com deputados que não são do baixo clero. Me considero também do baixo clero. Jogo futebol com os deputados. Não sou arrogante. Esse negócio que sou arrogante ´é conversa piada. Tive uma briga com o deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) e hoje a gente não se fala. Mas acabou. Não tenho nenhuma inimizade, a não ser com ele. O senhor continua pré-candidato em São Paulo? Continuo. Precisamos nos próximos 15 dias resolver isso. Sobraram dois caminhos para o bloco (PDT-PSB-PcdoB): ter candidato próprio ou apoiar a Marta. Nessa composição com a Marta, o bloco indicaria um vice? Acho que o bloco hoje em São Paulo é decisivo. Qual partido tinha influência no meio sindical? O PT. Mas ele perdeu muito. E o bloco tem isso. A grande maioria dos sindicatos é ligada ao bloco. O bloco pode não ter voto, mas tem uma militância que ninguém tem. Se o bloco apoiar, a chance de ganhar é grande. Não sei se essa chance haveria com o bloco como candidato. Porque a eleição em São Paulo será polarizada. O senhor vai deixar a presidência do PDT paulista? Eu acho que vou me afastar semana que vem, provisoriamente. Essa é uma decisão minha, mas vou me afastar porque não estou tendo tempo de cuidar dos problemas nas cidades, até porque vou ter que me dedicar ao processo aqui. Vou ajudar mais de fora do que dentro.

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