postado em 09/06/2008 19:14
Como estratégia para esvaziar as denúncias de irregularidades sobre a venda da Varig, os governistas vão usar as acusações que envolvem a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), e a empresa Alstom. Irônica, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), levantou nesta segunda-feira dúvidas sobre as informações de Denise Abreu, ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), sobre a suposta pressão exercida pela Casa Civil.
"O processo de venda da Varig foi acompanhado por todos", afirmou Ideli. "Na época não apareceu nada. Mas agora parece que coincidência é o mínimo [que se pode dizer]. Mas vamos ouvir. Mas o que a gente acha é tudo muito estranho." Ao ser questionada sobre a pressão do DEM e do PSDB para que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) preste esclarecimentos sobre as denúncias, a petista lançou um desafio à oposição. "Eles [os partidos de oposição] vão ter de ter moral para investigar, por exemplo, com os casos do Rio Grande do Sul e Alstom não investigam nada", disse ela.
A oposição quer aproveitar um requerimento que já foi aprovado pela Comissão de Infra-Estrutura do Senado para que Dilma trate da usina de Belo Monte e ela seja convidada a prestar esclarecimentos. Ideli sinalizou que essa tática foi usada no passado, quando Dilma foi chamada para tratar do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e acabou questionada sobre o dossiê com dados sigilosos do governo Fernando Henrique Cardoso, e não trouxe ganhos para a oposição.
Sem mencionar as críticas dos governistas, o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), afirmou que a intenção é apurar a venda sem ônus da Varig e mais o fato de ter ocorrido para uma empresa de não-brasileiros. "Temos de investigar a fundo o que houve. Vamos ver o que a Denise tem a dizer", afirmou ele.
Casos
No Rio Grande do Sul, o governo de Yeda Crusius (PSDB) passa por uma crise. No último sábado, a governadora demitiu três assessores do primeiro escalão. Um deles, o chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, depois do seu vice-governador Paulo Feijó (DEM) divulgar conversa gravada em que o ex-titular da Casa Civil reconhecia o uso de estatais do governo gaúcho para financiamento de campanhas eleitorais.
Feijó está sendo ameaçado de expulsão pelo DEM que na próxima quarta-feira vai examinar representação que será encaminhada solicitando a exclusão do vice-governador dos quadros do partido.
Já o caso da multinacional francesa Alstom envolve denúncias de venda de equipamentos destinados ao Metrô de São Paulo e à construção da Usina Hidrelétrica de Ita, entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, incluindo o pagamento de elevadas propinas.
Depoimentos
Nesta quarta-feira (11), a Comissão de Infra-Estrutura do Senado tomará uma série de depoimentos de um total de 11. O objetivo é investigar as denúncias feitas por Denise Abreu que a Casa Civil favoreceu a venda da VarigLog e da Varig ao fundo Matlin Patterson e aos três sócios brasileiros (Marco Antonio Audi, Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel).
Segundo Denise Abreu, Dilma a desestimulou a pedir documentos que comprovassem a capacidade financeira dos três sócios para comprar a empresa, já que a lei proíbe estrangeiros de possuir mais de 20% do capital das companhias aéreas.