postado em 10/06/2008 10:04
A ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu promete apresentar amanhã ao Senado documentação suficiente para comprovar as denúncias que fez sobre o processo de venda da Varig e das pressões que afirma ter recebido da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em benefício dos compradores.
Ao atender ao convite da Comissão de Infra-Estrutura do Senado para prestar depoimento, Denise pretende provar que suas preocupações em torno da transação eram legítimas e que uma série de fatos, no caminho da negociação, aponta para o interesse do governo no resultado da operação.
Denise Abreu passou o dia de ontem reunindo documentos e não pretende falar com a imprensa antes de dar esclarecimentos ao Senado. Segundo relato feito por ela a advogados e assessores, todas as afirmações já feitas por meio da imprensa têm provas. Ela reiterou ter sofrido pressões para qualificar os compradores, o fundo estrangeiro Matlin Patterson associado a três empresários brasileiros em vários momentos diferentes da transação.
Denise avisou que apresentará documentos que provam, na verdade, que todo o caminho da transação é obscuro ou estranho. Do início à finalização da venda, teriam havido procedimentos irregulares ou no mínimo suspeitos. De um lado, a pressão por parte do governo federal para que o negócio fosse fechado rapidamente e, de outro, uma série de argumentos, inclusive uma decisão judicial, recomendando cautela diante da qualificação dos interessados da compra.
A ex-diretora da Anac também deve falar sobre as preocupações com a origem do capital da empresa, a movimentação financeira e a real capacidade de ter sido qualificada para a operação. Segundo seus advogados, não é possível prever ainda se haverá novidades bombásticas ou, apenas, esclarecimentos para as denúncias. No entanto, é provável que, na reunião no Senado, Denise acabe contando mais detalhes sobre os reais motivos de sua saída da agência reguladora da aviação.
Oposição
A postura prometida por Denise vai de encontro ao que a oposição espera dela amanhã. Caso contrário, DEM e PSDB apostam que o governo irá desqualificar a ex-diretora da Anac. ;Espero que ela confirme as acusações e traga documentos. Só o blá blá blá não resolve;, avalia o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). ;Ela precisa mostrar elementos;, reforça.
A pressão sobre Denise é compartilhada pelo líder do DEM, José Agripino (RN). ;Esperamos que ela mostre documentos. A Denise precisa de indícios consistentes;, diz o senador. Já o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), prefere a cautela. ;Espero que é diga algo convincente. Não tenho a menor idéia do que ela dirá;, afirma.
No depoimento de amanhã, a oposição pretende centrar fogo em dois pontos: na participação estrangeira na venda da Varig e na decisão de não repassar a dívida bilionária da empresa aos novos donos. ;Ela tem que dizer em quais circunstâncias se deram essa coisas;, alega Agripino.
Questões abertas
Perguntas sobre pressões que teriam sido feitas pela ministra Dilma Rousseff em torno da qualificação da VarigLog para compra da Varig em junho de 2006 que devem ser respondidas com documentos
# As agendas da Anac e da Casa Civil confirmam a realização da reunião entre Denise e Dilma em abril de 2006? A ex-diretora da Anac disse ter sofrido pressões nesse encontro.
# Onde está o ofício confirmando que a Anac fez exigências adicionais à VarigLog, com o propósito de obter comprovações sobre o capital da empresa e sua real capacidade de ser qualificada para o negócio?
# Que documentos provam não apenas a visita, mas, sobretudo, o teor da visita feita pela advogada da VarigLog, Valeska Teixeira, à diretoria da Anac, em 23 de junho de 2006, dois dias antes da consolidação da venda da Varig?
# Antes das supostas pressões exercidas em favor da VarigLog, um desembargador havia dado uma decisão contrária à empresa. Onde estão estas provas?
# Como provar que somas elevadas de dólares teriam sido pagas por intermédio de um representante da VarigLog ao advogado Roberto Teixeira, pai de Valéria?
# Onde estão os recibos ou outros comprovantes existentes? A Varig foi vendida por US$ 24 milhões à VarigLog e, 10 meses depois, passou para as mãos da Gol por US$ 275 milhões. Roberto Teixeira foi um dos advogados que atuaram na transação entre a VarigLog e a Gol.