postado em 12/06/2008 08:54
Entre janeiro de 2007 a maio deste ano, o crematório Jardim Metropolitano de Valparaíso de Goiás foi contratado por 340 famílias. A empresa é a única do setor nas proximidades do Distrito Federal e, portanto, responsável por praticamente toda a demanda por esse tipo de serviço. Relatos de pessoas que perderam parentes nesse período indicam que o crematório engana os clientes quanto ao destino de caixões doados. Uma parte deles chega a ser repassado para entidades sem fins lucrativos. Outra, porém, sequer chega ao conhecimento das instituições como pretendeu quem fez o ato de caridade.
No início da semana, a Jardim Metropolitano enviou um relatório para a CPI dos Cemitérios com 340 folhas. Segundo a empresa, os documentos correspondem a todos os termos de responsabilidade assinados pelas famílias que dizem respeito ao encaminhamento de caixões. A partir desse material, é possível ter três grupos: as fichas de quem escolheu cremar o corpo junto à urna (foram 95 casos), as que indicam que a mesma foi alugada (102) e aquelas referentes à famílias que resolveram doar a esquife (143).
No caso de quem resolveu ceder os caixões, as pessoas são orientadas, momentos antes de assinar o termo de doação, a indicar a entidade para onde vão destinar a urna. Em geral, é a própria empresa quem sugere, uma vez que muitos clientes pedem uma indicação. No documento há um campo específico para se preencher com tal informação. Das 143 famílias que concordaram em doar as urnas, no entanto, 68 não teriam especificado o destino, já que há uma lacuna nos papéis. O Correio procurou algumas dessas famílias que, em tese, não informaram para onde foram os caixões. Por meio da lista telefônica, a reportagem conseguiu entrar em contato com quatro pessoas que assinaram esses documentos.
A surpresa é que as pessoas ouvidas confirmam não só terem feito a indicação como terem preenchido, de próprio punho em dois casos, a entidade para a qual gostariam que as urnas fossem encaminhadas. Estranhamente, as fichas apresentadas à comissão parlamentar de inquérito não correspondem à vontade dessas pessoas. ;Tenho perfeita lembrança de que escrevi no campo destinado à doação Lar Maria Madalena (conhecido como Lar dos Velhinhos). Não entendo como no documento a informação não aparece;, afirmou um dos familiares que perdeu a mãe há dois meses. Ele estava acompanhado de uma sobrinha e a enfermeira.
Uma outra senhora, que perdeu o marido depois de 43 anos de convivência, falou com a reportagem pouco antes de participar da missa de um mês de falecimento do companheiro. Mesmo abalada pela perda recente, a senhora confirmou que ela e uma sobrinha fizeram a opção pela entidade. ;Meu marido morreu de câncer, e eu decidi doar o caixão dele para a Abrace;, afirmou. Mas também no caso dele, essa especificação está em branco. Em outros dois casos, as histórias se repetem. ;Cheguei a pensar em cremar com o caixão, mas nesse caso as cinzas se misturam e eu teria de obter uma urna maior para as cinzas. Decidi então pela doação, pedi e aceitei deles a indicação da entidade, o que imagino esteja registrado no contrato;, afirmou uma outra pessoa ouvida.
O Jardim Metropolitano é administrado pela Contil, empresa pertencente a Francisco Moacir Pinto. Ele é também o majoritário na concessão do serviço dos seis cemitérios do Distrito Federal. O empresário será ouvido nesta quinta-feira (12/06) em depoimento à CPI dos Cemitérios, na Câmara Legislativa.