postado em 13/06/2008 12:41
A crise política que afeta o governo de Yeda Crusius (PSDB-RS) teve mais um capítulo nesta quinta-feira (12/06) com a divulgação, pela CPI que investiga fraudes no Detran do Estado, de telefonema que mostraria a ação de um empresário tucano como lobista de empresas interessadas em negócios com o órgão.
Em novembro do ano passado, uma operação da Polícia Federal prendeu 13 pessoas suspeitas de desviar R$ 44 milhões do Detran, entre 2003 e 2007. A Justiça Federal abriu processo contra 40 acusados de participação nas fraudes, e uma CPI estadual foi aberta para apurar o caso, que já derrubou quatro membros do primeiro escalão do governo de Yeda.
Na conversa divulgada ontem, de novembro passado, o empresário Lair Ferst, ligado ao PSDB e pivô do suposto esquema, age como uma espécie de representante do Detran diante de uma empresa alemã interessada em fechar negócios com o órgão estadual.
Segundo a interpretação da Polícia Federal, Ferst acerta um encontro de empresários (que não tiveram os nomes divulgados) com o então presidente do Detran, Flávio Vaz Netto. A conversa contradiz a versão de Ferst, que nega ter atuado como lobista no Detran e os contatos com Vaz Netto. O grampo foi feito em 1° de novembro, cinco dias antes de ser deflagrada a Operação Rodin, que prendeu 13 pessoas, entre elas Ferst e Vaz Netto, suspeitas de participar da fraude.
"Vê qual a data que eles definirem que daí eu vou adaptar a agenda [de Vaz Netto, segundo a Polícia Federal]", disse Ferst na conversa com um interlocutor não-identificado.
Ferst disse ontem que a PF se baseia em suposições. Apontou "contradição forte" entre a interpretação do grampo e a investigação da polícia. Segundo ele, a conversa ocorreu quase seis meses depois que empresas de sua família deixaram de ser subcontratadas pelo Detran: "A PF interceptou meu telefone durante um ano e não há uma conversa com o Vaz Netto", declarou Ferst ontem.
O empresário voltou a negar envolvimento com as supostas fraudes no órgão. Sem citar o nome da empresa alemã, disse que os empresários procuraram Detrans em todo o país, mas que a reunião com funcionários do órgão no Estado não aconteceu.
Vice-governador
O vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Feijó (DEM), depôs ontem à força-tarefa do Ministério Público que investiga possíveis desvios de recursos de estatais gaúchas.
Em duas horas e meia de depoimento, ele negou que tenha outras gravações de conversas com políticos, contrariando o que dissera na segunda, quando prometeu revelar os diálogos em "momento oportuno".
Na última sexta-feira, o vice-governador, inimigo político de Yeda, divulgou gravação de 22 minutos de conversa em que o ex-chefe da Casa Civil, Cézar Busatto (PPS), reconhecia que estatais gaúchas financiaram campanhas eleitorais.
A divulgação da gravação, feita por Feijó, provocou a queda de Busatto e acentuou a crise política no Estado.
Feijó disse que tudo o que sabe sobre os supostos desvios de recursos para financiar políticos se resume ao relatado por Busatto na conversa. O vice evitou a imprensa ontem.