postado em 16/06/2008 09:30
A CPI dos Cemitérios vai ouvir, na próxima quarta-feira, o depoimento de um ex-funcionário do Instituto Candango de Solidariedade (ICS) que assumiu no domingo (16/06) a autoria da criação de um depósito de ossadas no fundo do cemitério do Gama. Francisco Assis de Carvalho, que atualmente trabalha como zelador de um prédio no Sudoeste, prestou depoimento à 20ª Delegacia de Polícia e contou ter ajudado a construir, entre o final de 2001 e início de 2002, um ossário para enterro de restos mortais de indigentes. Assis afirma ter sido operador de escavadeira do governo do Distrito Federal antes da privatização da gestão dos seis cemitérios.
Assis chegou à 20ª Delegacia de Polícia, no Gama, acompanhado do advogado Paulo Castelo Branco, que representa a Campo da Esperança Ltda, concessionária da administração dos seis cemitérios do Distrito Federal. A princípio, os policiais de plantão não queriam registrar o depoimento no domingo, mas foram convencidos pelo advogado, que insistiu na importância do relato. Assis contou que viu no noticiário, a diligência da CPI dos Ossos no Gama, quando foram encontrados restos mortais dentro de manilhas enterradas numa vala, e resolveu apresentar a sua versão para os fatos.
Assis afirmou ter reconhecido o local porque nos fundos do cemitério há uma casa grande que chama a atenção. A primeira reação, segundo contou, foi procurar a 14ª Delegacia de Polícia, mas lá não conseguiu registrar seu testemunho. Assis disse que, então, telefonou para a secretária de Desenvolvimento Social, Eliana Pedrosa, porque pensou que ela fosse a dona da empresa Campo da Esperança Ltda, administradora dos cemitérios.
Os dois mantiveram contato até a manhã de domingo, quando Eliana comunicou o fato ao presidente da CPI, Rogério Ulysses (PSB). Na manhã de domingo, o ex-servidor do ICS resolveu procurar a Campo da Esperança para se apresentar como um dos responsáveis pela vala e pelas manilhas onde foram encontrados os ossos. Ele diz que trabalhou no ossário a pedido do então gerente do cemitério. O Correio localizou Assis por telefone, mas ele disse que não poderia revelar detalhes do caso. ;Preciso conversar com meu patrão para saber se posso falar;, afirmou.
O deputado José Antonio Reguffe (PDT) soube que Assis queria apresentar seu relato e avalia que o depoimento deve ser analisado com cautela. ;É estranho aparecer de repente alguém para assumir o depósito clandestino. Precisamos ouvi-lo para entender o que está acontecendo até porque temos de ser responsáveis;, afirmou Reguffe. No início da tarde, Assis recebeu a visita em sua casa, na cidade de Santa Maria, de Rogério Ulysses, que o notificou para prestar depoimento à CPI. Na terça-feria (17/06) a comissão vai ouvir o ex-gerente do cemitério do Gama que fez as denúncias de que o depósito clandestino de ossos foi construído já na gestão da Campo da Esperança, como forma de abrir espaço para novas áreas e faturar com novos sepultamentos.
A inspeção da CPI dos Ossos no último sábado causou comoção. São fortes as imagens de restos mortais depositados numa vala, sem identificação. Já na manhã de sábado, a secretaria de Desenvolvimento Social chegou a anunciar disposição de fazer uma intervenção no cemitério do Gama, nomeando para tal finalidade o secretário-adjunto, Edgard Lorenzini. O processo, no entanto, ainda depende de autorização do governador José Roberto Arruda (DEM).
Terceirização
Depois de participar de um evento no Riacho Fundo II, Arruda disse ontem ter ficado ;estarrecido; com as imagens da inspeção no cemitério do Gama e, pela primeira vez, externou sua posição sobre as denúncias levantadas pela CPI. Arruda afirmou que sempre foi contra privatização da administração dos cemitérios (veja entrevista na edição impressa do Correio Braziliense).
Arruda anunciou que defende uma medida dura para tentar evitar novos problemas. O governador pediu um estudo à Corregedoria-geral e à Procuradoria-geral do Distrito Federal sobre as medidas legais que poderá adotar nesse caso. Uma das possibilidades é a intervenção, mas Arruda também pode determinar a cassação da concessão.