Politica

Entrevista - Marco Antonio Audi: "Está com medo de mim por quê?"

Empresário ameaça abrir contas da Volo para provar pagamentos de US$ 5 milhões a Roberto Teixeira

postado em 22/06/2008 10:30
Pela primeira vez, o empresário Marco Antonio Audi decidiu relevar detalhes de como a Volo do Brasil, sociedade que se formou para comprar a VarigLog, pagou os mais de US$ 5 milhões pela atuação no processo do advogado Roberto Teixeira, amigo e compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, foram usadas oito empresas da sociedade, com pagamentos periódicos, sem valores fixos e aprovados pelo conselho de administração da Volo ; da qual Audi era o presidente. Os depósitos eram feitos na conta corrente do escritório de Teixeira. "Ele deve essa satisfação aos 200 milhões de brasileiros. Ele chegou lá no Senado, se disse amigo do presidente, se disse limpo e pediu regalias para depor", afirma o empresário. Em entrevista ao Correio Braziliense, o empresário chama Teixeira para ficar cara-a-cara com ele diante dos senadores e repetir que só recebeu US$ 350 mil de honorários. "Abre essa contabilidade para ver quem pagou a quem. Quem que é o sem-vergonha aqui?", provoca Audi, um dos três sócios brasileiros destituídos por decisão da Justiça paulista. Leia a entrevista a seguir:

O advogado Roberto Teixeira reafirmou semana passada que foi contratado por US$ 350 mil para defender a Volo do Brasil. O senhor continua a dizer que pagou US$ 5 milhões?

Só ele acha que qualquer um de nós, idiotas, brasileiros normais, acredita que um advogado como ele que trabalhou por quase dois anos recebeu US$ 350 mil para toda a banca! Quanto que ele ganhou? Dez mil reais por mês? É o tipo de negócio que não existe. Volto a afirmar: as empresas pagaram valores acima de US$ 5 milhões para o escritório do Teixeira Martins.

Quais empresas?

Volo do Brasil, Volo Logistics, LLC, VRG Linhas Aéreas SA, Varig Logística SA, VBP do Brasil SA, Fundo Matlin Patterson USA e Fundo Matlin Patterson Latin America.

Então Teixeira recebeu dessas oito empresas, inclusive no exterior?

O que estou dizendo é o seguinte: ele recebeu dinheiro de todas essas. Ele não pode negar. Não tem nada ilegal. Uma coisa que não garanto é que, depois dessa briga toda, o que eles fizeram depois que o fundo Matlin Patterson passou a pagá-lo diretamente. Ele deve essa satisfação aos 200 milhões de brasileiros. Ele chegou lá no Senado, se disse amigo do presidente, se disse limpo e pediu regalias para depor. Eu já sou ao contrário. Fui convocado e digo para todo mundo: Me põe sentado com ele na mesa, quero o confronto, põe ele do meu lado lá, e pode perguntar para mim e para ele, que não tem problema. Não tenho nada a esconder. Ele não: "Ah, a única coisa que não quero é sentar ao lado do Audi". Não quer por quê? Está com medo de mim por quê?

Como se davam esses pagamentos?

Apenas na conta corrente do escritório dele. Todas essas empresas têm contabilidade. Vamos fazer uma perícia? É o que vou falar no Senado. Está todo mundo com dúvida? Não tem problema. Pede a perícia. Um diz que pagou um montante e o outro nega. Então, alguém está lesando alguém. Precisaria pegar um promotor público federal e falar o seguinte: abre essa contabilidade de toda para ver quem pagou a quem. Quem que é o sem-vergonha aqui?

Havia uma sistemática nesses pagamentos?

O dinheiro vinha de onde tinha caixa. Ele foi contratado para atuar pela Volo do Brasil e empresas adjacentes. "Roberto, saca agora nota contra a VRG". Aí a gente ia pagando por meio das empresas. Você pega um mês que uma empresa está ruim de caixa, aí você paga pela outra. Chegava num mês, ele trabalhava tanto, apresentava as notas e era pago. Então tinha mês que se pagava US$ 200 mil, US$ 300 mil. Tiveram também dois pagamentos pontuais. Um aporte na contratação dele de US$ 250 mil para eu poder conversar com ele. Está no contrato. E um pagamento de US$ 750 mil no sucesso da entrega da transferência do Cheta (certificado que permite a empresa operar) da VarigLog. Só aqui é US$ 1 milhão. O resto é tudo trabalho mensal. Não tem nada demais o escritório ganhar dinheiro. Nós estávamos num negócio de US$ 1 bilhão, se o escritório ganhasse US$ 5, 4, 10 milhões, não é muito. Eu jamais discutiria se o cara foi caro ou barato. Nada disso. O contratado não é caro, nem barato. Combinou, tem que se pagar.

Quem dava a ordem para realizar esses pagamentos?

Há um setor financeiro que cuida dos pagamentos. Entretanto, acima de um certo valor, que era o caso do Teixeira, só eram liberados recursos após aprovação pelo conselho de administração, do qual eu era o presidente. Tinha que passar por nós. Era praxe que todos os pagamentos de advogados passassem por nós. Nós temos documentos para atestar isso.

O senhor chegou a desconfiar da atuação jurídica de Roberto Teixeira quando ele atuava para a Volo do Brasil?

Ele atuava como advogado da Volo do Brasil e adjacências. Quando a gente começou a não se sentir bem? Foi quando começou a nossa briga com o fundo. A briga começou mais ou menos por volta do dia 20 de dezembro de 2006. Nós recebemos o Cheta no dia 14. Nessa época, eu fui lá e conversei com o presidente da República, disse que as nossas intenções eram sérias e de longo prazo com a família VarigLog e Varig. Por essa época também, o senhor Lap Chan me procurou, disse que estava chegando a São Paulo e que precisava conversar comigo. Ele passou no escritório e me disse que havia acontecido algo com o fundo, que houve um racha entre os sócios e que não podia mais emprestar dinheiro para a gente. Começou a azedar aí a nossa relação com eles. Nós tínhamos um compromisso assinado. Nós tínhamos que aplicar US$ 485 milhões no projeto Varig. Eles tinham nos emprestado, até aquela data, US$ 211 milhões, e faltavam US$ 274 milhões. Ele, agindo como um Deus, simplesmente cortou. Aí azedou. Aí não era hora de brigar, era a hora de se salvar, porque ia quebrar as duas empresas. Aí que a gente procurou um comprador para a Varig e para a nova Varig. Foi aí que a gente começou a sentir as intenções do Roberto Teixeira... Primeiro, eu cheguei para o Roberto: "Cortaram o crédito e nós temos que vender a Varig". "Deus me livre, você está louco". Isso foi uma obra de arte dele ( aoperação de compra da VarigLog). É tanta traição que eu digo para você: a única coisa que te separa, te rebaixa, ao ser que na sua casa late, é você trair alguém. Basta você trair alguém para você virar um animal. É o que ele virou para mim. Não são frases de efeito, é a verdade. Voltando, aí ele se disse contra. Eu disse: doutor Roberto, não tem jeito. Nós vamos quebrar. Nós não vamos ter caixa para sobreviver três meses. Eu falei com o Lap, o doutor Roberto é contra. O Lap foi conversar com ele. Eu sei que depois da conversa, o doutor Roberto já começou a achar que tinha mesmo que vender. Agora, se me perguntar o que aconteceu daí para frente, é mera especulação e chute, não sei o que ocorreu.

Em que momento Teixeira conversou com os sócios brasileiros e disse que estava advogando para o fundo Matlin Patterson?

Isso é uma questão de patrocínio infiel. É exatamente quando o seu advogado te trai e vai advogar para a outra parte. Em breve, vou mover uma ação em cima dele por causa disso. Não é possível um negócio desse. O Roberto Teixeira faz a barba todo dia de manhã e deve pensar: "Eu sou o presidente". É verdade, cara. Ele mandou uma carta dizendo que renunciava aos direitos do saldo do honorário, no valor de R$ 1,3 milhão, e que não era mais nosso advogado. Na realidade, ele já estava trabalhando para o chinês.

O Tribunal de Justiça de São Paulo rejeitou na semana passada recurso apresentado pela defesa dos senhores para voltarem para a sociedade que comprou a VarigLog. Como o senhor vê essa decisão, uma vez que está cada vez mais próximo o final do prazo dado para a Anac para a Volo do Brasil, que está completamente nas mãos de estrangeiros, se adequar à legislação?

Primeiro, vou falar do prazo. A Anac (Agência Nacional de Aviação), via o ministro Jobim, disse que, se não regularizar, a empresa perde o Cheta no dia 7. Ele é um homem de palavra, o Jobim não brinca. Agora, talvez o Roberto Teixeira faça chover de novo. É isso que todo mundo vai ter que ficar de olho. Ele hoje (sexta) disse que empresa estrangeira pode controlar empresa nacional. Imagina, ele era o maior defensor do mercado. E ele agora é a favor (da empresa estrangeira). Vamos ver se ele vai fazer chover ou não. O Tribunal de Justiça manteve a liminar dada pelo juiz Magano (José Paulo Magano, responsável pelo processo de dissolução da sociedade). O próprio relator do Tribunal de Justiça disse que não tinha perigo de exclusão permanente. Só que nós estamos fazendo outros recursos jurídicos. O que vamos mostrar? Tribunal, se continuar dessa maneira, a empresa vai quebrar. Se a empresa perder o Cheta dela, acabou. Qual vai ser uma empresa séria, brasileira, que vai entrar numa briga dessas? Eu não encontro.

Houve ou há alguma tentativa de acordo entre os sócios brasileiros excluídos e o fundo de investimentos?

Eu tive com a filha do Roberto, a Valeska Teixeira, e o Cristiano (sócio e genro de Roberto no escritório), com os meus dois sócios depois da decisão do juiz Magano (de excluir os três brasileiros) e tentamos falar com eles: ou vocês compram a gente ou a gente compra eles ou vamos conviver juntos enquanto não achamos comprador para todo mundo. É mais ou menos assim: você quer desquitar da sua esposa, mas você espera um pouco para o bem das crianças. Não custa nada, não precisamos nos amar, mas, calma, que na hora certa vai cada um para o seu canto. O que a gente tinha que pensar? Na empresa, nos empregos. Eu fui propor isso para eles. Depois, a Valeska vem ao mercado dizer que eu fiz uma proposta indecorosa. Não contente com isso, eu sentei depois com o Lap Chan, o Luiz Eduardo Gallo e o Marcos Haftel, no Rufino, um restaurante em São Paulo, e não durou 10 minutos a conversa. Eu falei a mesma coisa: "você não precisa me amar como eu também não te amo mais Lap. Quero deixar bem claro, nós dois somos dois profissionais. A esta hora nós temos que encontrar um comprador em conjunto para a companhia." Não teve resposta e aconteceu essa coisa toda.

Como o senhor viu atuação de autoridades, como a ministra Dilma Rousseff, nesse caso?

A ministra Dilma e o presidente não tem nada a ver com isso. Isso é uma briga privada entre dois empresários e no meio um advogado traidor, que promove o patrocínio infiel. Falar que a ministra e o presidente tem algo com isso é covardia. Se eles quisessem ajudar, eu não teria ficado seis meses apanhando da Anac para liberar o Cheta.

Como estão seus débitos do senhor com a Justiça? O Correio apurou que, de 2003 para cá, cobram-lhe na Justiça 2 milhões de dívidas com o INSS.

Essa discussão de impostos no Brasil, qualquer empresário tem. Eu não estou negando. Uma empresa que entra numa discussão não quer dizer que ela seja devedora. Espera transitar em julgado e aí você pode chegar para mim e dizer que sou devedor. Eu não sou. Não existe não haver essas discussões de dívidas no Brasil com essa malha de leis. Os débitos estão todos parcelados ou já foram pagos.

O senhor acredita que ainda voltará para a sociedade?

Eu só quero confiar na justiça. A empresa é nossa, é um bem nacional, e estou disposto a comprar do chinês (Lap Chan, representante do fundo no Brasil). Eu criei essa empresa, ela começou do zero, não tinha um avião, chegamos a 24 aviões, chegamos a faturar R$120 milhões de reais por mês, chegamos a 57% do mercado brasileiro de carga aérea.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação